Infelizmente a freguesia dos Biscoitos foi notícia de primeira página e de abertura de noticiários por ontem, domingo, ter ocontecido um desastre na sua principal zona balnear.
É certo que perante a ocorrência de factos adversos muito se pode dizer, muitas hipótese são possíveis, mas também é certo que ninguém pode alterar o que em cada momento acontece. Porém, é da constatação e reflexão sobre os acontecimentos que se podem tirar ilações e ensinamentos para melhor poder prevenir bem como para melhorar práticas.
É para isto que nos propomos contribuir, ao referirmo-nos ao desastre ocorrido no litoral dos Biscoitos, bem com ao deixar outras notas sobre o contexto festivo onde o mesmo aconteceu.
O DESASTRE
Oito jovens decidiram medir forças com o mar "apanhando marés" e o oceano levou a melhor. Algumas ondas mais altas, e logo provocando correntes mais fortes, arrancaram-nos do sítio onde estavam, arrastando-os pelas águas e de encontro a rochas, provocando-lhes escoriações várias e, pelo menos a uma jovem de 15 anos de idade, ferimentos mortais.
Perante a ausência de meios de salvamento no local (inexistentes por o período oficial da época balnear já ter terminado), a ajuda e primeira assistência foi prestada por dois bombeiros que se encontravam no local por acaso.
Apesar de algumas dificuldades de trânsito (por via dos imensos veículos e das muitas pessoas que se encontravam na área devido à Festa do Porto dos Biscoitos) os meios de socorro pré-hospitalar (ambulâncias oriundas de Altares,
Praia da Vitória e Angra do Heroísmo) chegaram ao local e fizeram o transporte dos acidentados para o Hospital de Santo Espírito.
REFLEXÕES...
... SOBRE O DESASTRE
A primeira e principal responsabilidade sobre a segurança de cada pessoa cabe a si mesmo (bem como aos pais e encarregados de educação ou outros elementos que assumam essa responsabilidade em dado momento ou actividade, quando se trata de menores). Assim, cada um deve avaliar sobre as condições de segurança para determinado acto e prevenir-se, o mais possível, para consequências provenientes dos actos de outros ou dos efeitos de tecnologias e da própria natureza.
Em relação ao desastre de ontem, e perante vários relatos, parece não ter sido suficiente o cuidado que estes jovens dispensaram em relação à própria segurança, tendo em consideração que as condições de mar, ainda que talvez aparentemente não tão adversas como se vieram a revelar, não eram, de todo, as melhores.
... SOBRE O SOCORRO
Com os diversos condicionamentos em causa, e sem conhecimento total de todos os pormenores, pensamos que o socorro prestado terá sido aquele que foi humana e logisticamente possível. Não há dúvida porém de que se existissem outros meios a intervenção teria sido mais rápida, ainda que sem a certeza de se obterem melhores resultados.
Sabemos que em todo o período oficial da época balnear no concelho da Praia da Vitória "não ocorreu qualquer incidente relacionado com os banhistas" (de acordo com o chefe Costa, da
Polícia Marítima, em declarações
ao Diário Insular, edição de 22/Setembro/2005). Ainda bem que assim foi. Mas, apesar de não termos certezas quanto à resposta, perguntamos se não se justificaria alargar este período oficial ou, pelo menos, tratar estes casos de enorme afluxo de pessoas como momentos extraordinários da época balnear oficial merecedores de vigilância e acompanhamento, até reforçados?
Também sabemos, segundo o capitão do Porto de Angra (citado pelo
Diário Insular, edição de 26/Setembro/2005), que "todas as zonas balneares são mantidas ao nível de rondas e vigilância, mas que não se pode estar presente a todo o momento e em todos os locais". Julgamos que o litoral dos Biscoitos, nestes momentos de festa, deveria ter rondas e vigilância acrescidas. E não só no que diz respeito à zona balnear (mas já lá iremos ao resto).
... SOBRE A FALTA DE CIVISMO DE MUITAS PESSOAS
Pena temos que o grau de evolução comportamental não seja tão célere quanto gostaríamos.
Apresentamos duas notas para ilustrar esta afirmação.
Em primeiro lugar, em situação de ocorrência de algo anormal, a intensa curiosidade toma conta de muitas pessoas, levando-as a acorrerem e aglomerarem-se o mais próximo possível dos cenários dos "casos". Exceptuando as situações de aflição e de procura de informações para confirmar/desconfirmar suspeitas de envolvimento de pessoas familiares ou muito próximas (que mesmo assim devem ser vividas sem pânico e respeitando certos procedimentos) e a verificação de poder ou não contribuir para minimizar os problemas (como no caso dos bombeiros que intervieram na situação deste fim de semana), devemos "viver" estes momentos à distância, sem interferir, até para não atrapalhar (relataram-nos casos, que infelizmente não são novidade, de pessoas que, tão absortas nos intentos de ver algo mais, dificultaram a circulação de ambulâncias, rodeando-as e colocando-se no centro das vias de circulação).
Em segundo lugar, e variando um pouco o centro do assunto, temos outra questão, relacionada com a limpeza e asseio dos espaços. Na realidade, todo o litoral dos Biscoitos, durante e imediatamente após as festividades do último fim de semana de Setembro, "ganha" um estado de imundice, pela variedade e quantidade de desperdícios que são abandonados por todos os canto e recantos, mas também centros e lados. Não há dúvida de que, para cada um, é mais fácil abandonar o lixo que produz do que o levar até um local apropriado para o depositar. O pior mesmo é que uma larga maioria das pessoas, nestes contextos de festas, optam exactamente pelo mais fácil e menos digno (o que diriam se alguém lhes fizesse "trabalho" semelhante aos seus pátios, jardins e habitações?)
É necessária a ressalva de que em muitas situações as pessoas agem das formas relatadas por falta de informação e formação, de certa forma até embebidas e inebriadas por determinadas correntes de incorrectas atitudes colectivas.
... SOBRE A FALTA DE PREVENÇÃO
Finalmente, no que concerne a prevenção há a indicar várias ideias, pensando no contexto global das festividades que aconteceram sábado e domingo na zona do Porto dos Biscoitos.
A prevenção e o planeamento são fundamentais. Infelizmente, na nossa opinião de leigos no assunto e apenas perante o que nos é dado observar e nos relatam pessoas amigas, o planeamento ou não será suficiente ou não é totalmente bem executado, deixando de fora das acções de prevenção muitos potenciais perigos e adversidades.
Desde logo a questão do trânsito: temos como exemplo próximo o facto de que "o veículo automóvel da Polícia Marítima tentou acorrer à zona Balnear dos Biscoitos mas segundo o Capitania do Porto, a circulação por terra foi “extremamente complicada” devido ao muito movimento de veículos que existe hoje nos Biscoitos devido à festa do Porto e que tornou a passagem “altamente dificultada”, com o veículo da Polícia Marítima com as luzes de emergência ligadas a ficar parado durante cerca de 20 minutos “entalado” (
Diário Insular, 26/Setembro/2005). Sabemos que as vias em causa não são muito largas mas não queremos acreditar que, com vários acessos que têm sido criados (até à custa de património vitícola), não se consigam garantir corredores de emergência que permitam a circulação eficiente de veículos prioritários.
Por outro lado, achamos que estas "Festas do Porto", dadas as suas crescentes características de chamariz e concentração de jovens que aproveitam aquele fim de semana para se iniciarem ou confirmarem nas qualidades de "independência do poder paternal" (incluindo muitos menores), em muitos casos com a associação a elevados consumos de bebidas alcoólicas e outras substâncias tóxicas, deveriam ter maior efectivo policial presente, em permanência. E isto tanto numa atitude de visibilidade, desmotivando para práticas ilícitas e/ou perigosas, como numa atitude de fiscalização. Não pedimos demasiada repressão, mas deixar "à solta" estes contextos de "confusão" pode trazer sérios perigos.
Respondendo à triste situação de falta de asseio que se verifica em todos os espaços litorais, defendemos que uma distribuição massiva, ao longo de todos os espaços, entre a Canada da Rua Longa e a Canada da Salga, de contentores para lixo doméstico, para uso durante o período de festejos, poderiam trazer resultados positivos. Acreditamos que é mais provável que as pessoas se desloquem até aos contentores de resíduos se avistarem algum nas redondezas, do que se não se depararem com nenhum (sabemos que será mais correcto que cada um procure o contentor do que colocar quase um contentor por cada 50 m mas o facto é que nestas ocasiões as pessoas não se preocupam em procurar o dito local de depósito de lixo).
Se todos nos esforçamos decerto que a sociedade evolui de forma positiva.