terça-feira, 8 de novembro de 2005

Algo mais do que Azuis...


Visitamos no passado domingo a exposição de Rui Melo, por nós aqui referida a 1 de Outubro.
Vimos e apreciamos o que nos apresenta este artista natural dos Biscoitos. Como sempre, Rui Melo revela-se um pintor a quem o talento não falta e em constante mutação no que diz respeito aos efeitos visuais criados, não deixando de seguir um fio condutor que permite (pelo menos no que nos diz respeito) recordar algumas das suas obras de outros tempos.
Em entrevista a Andreia Fernandes (Diário Insular, 2/Outubro/2005), Rui Melo explica que esta exposição "inicialmente era para se chamar “Blue”, mas depois acabou por tomar um caminho que não era bem o que estava decidido, e acabei por não dar nome à exposição. No entanto, a principal série de trabalhos que está lá é o “Blue” – I, II, III, e há um “Big Blue”. A questão do estrangeirismo é um bocadinho irritante, mas eu explico: é que com o termo “Blue” conseguimos ir buscar a nostalgia do “blue” musical americano que é muito parecida com o nosso fado. Acho que com o “Blue” consegui uma profundidade maior, em vez de lhe chamar“Azul”, em português, que não abria a outras conotações."
Para além destes Azuis (por si mesmo, e de acordo com a explicação, algo mais do que isso), existem outros trabalhos expostos, nomeadamente uma série de ensaios sobre a serenidade e três fotografias de momentos do processo de criação.
Aproveitamos para destacar mais algumas ideias expressas pelo artista, na entrevista já referida:
- sobre a limitação da carreira artística pela distância: "Se temos ideia de ser vedetas, podemos esquecer, não há hipótese nenhuma. Eu por mim não estou nada importado em ser vedeta, portanto, trabalho muito melhor aqui do que noutro sítio qualquer. Na minha filosofia de vida, o que me interessa é poder fazer aquilo que gosto com dignidade. Para mim o público da Terceira é tão nobre como o público de Lisboa ou de Nova Iorque. Há quem não pense assim, muita gente não pensa assim. O que acontece é que aqui não há críticos de arte a escrever sobre nós, estamos condenados a que o nome nunca seja muito projectado e assim dificilmente aparecerá um contacto para exposições em sítios de maior dimensão. A questão é saber se isso de facto é importante ou não. Uma carreira artística em que se queira andar no top, estando aqui, é muito complicado, ou então tem que se trabalhar vinte vezes mais do que uma pessoa que está no centro. No meu caso isso não é muito importante."
- sobre o mercado artístico local: "O que se passa aqui é que a sociedade começa agora a despertar para isto, mas não há um mecanismo da arte como há nos sítios grandes. A gente faz as coisas, depois temos que lutar bastante para serem vistas, depois isso também não tem grandes reflexos porque pouca gente escreve sobre aquilo, estou-me a referir a pessoas que estão ligadas a revistas de arte. É sempre um pouco sufocante. E depois se a gente tenta viver só disto, é o sufoco financeiro completo, não é possível. É um bocado um espírito de sacrifício e é abdicar de muita coisa. Para fazer isto temos de fazer outras coisas e o que acontece é que o nosso tempo fica cheio de tudo."
- sobre os apoios recebidos: "Comigo os apoios costumam ser à montagem da exposição, e o que é isso? Dão-me uma verba ou eu compro uma quantidade de materiais que são financiados. Montar um exposição inclui muitos gastos, por exemplo, trabalhos em papel, não se pode pôr papel na parede, é preciso vidro, molduras, capas atrás; o material gráfico é caríssimo (cartazes, convites). Montar uma exposição chega rapidamente a mil contos. Neste caso, a exposição vai sair da Terceira para ir a São Miguel, há despesas com transitários, embalagens para os trabalhos. Quando se acaba de fazer a conta é um bocadinho assustador. Tendo em conta que não há mercado que suporte isso, não sendo com estas ajudas, tudo seria muito difícil."
Lembramos que esta exposição de pintura, decerto merecedora da sua visita, está patente na CARMINA - Galeria de Arte Contemporânea até 4 de Dezembro 2005.
Mais uma vez, expressamos os nossos parabéns ao Rui Melo.

1 comentários:

Anónimo,  8/11/05 19:00  

Rui Melo é aquele talento que excita a emulação.

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Biscoitos, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal

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