domingo, 22 de novembro de 2009

Crónica “Músicos… de filarmónica!”

Publicamos hoje um nosso trabalho*, alusivo a este dia de Santa Cecília.
"De acordo com o calendário cristão, este dia 22 de Novembro é dedicado a Santa Cecília, Padroeira dos Músicos.
Existindo muitos estilos, géneros e formações musicais existe necessariamente imensa variedade também no que diz respeito aos que abraçam a música como actividade, seja de forma profissional, semi-profissional ou amadora. As respectivas tarefas também são diversas, indo desde a composição até à execução, passando por outros contributos como a regência, por exemplo.
Essa multiplicidade de “músicas” e músicos está bem presente no caso açoriano. Sem estarmos a listar o conjunto de singularidades que compõem o panorama musical nos Açores, não temos dúvida em destacar as filarmónicas como o tipo de formação que maior expressão apresenta entre nós, nomeadamente pela quantidade de músicos que a elas estão associados.
Umas vezes vistas como verdadeiros pólos de dinamização e enriquecimento cultural, outras vezes referidas como estando em decadência, as filarmónicas continuam a existir, em grande número e a abrilhantar muitos eventos e festividades.
Prova disso são os Festivais de Filarmónicas promovidos pelo INATEL na Ilha Terceira e na Ilha Graciosa. No caso terceirense, depois da primeira edição ter contado com uma dúzia de bandas, a de 2008, o oitavo, teve a participação de 20 das 24 filarmónicas da ilha. Assim, desde o fim de Outubro e até 29 de Novembro de 2008, registaram-se sete serões com concertos, cada um deles reunindo, num palco diferente, várias filarmónicas. Seguiu-se a Graciosa, onde todas as 4 bandas da ilha participaram, actuando entre 30 de Novembro e 7 de Dezembro de 2008.
De acordo com Moisés Mendes, da Delegação de Angra do Heroísmo da Fundação INATEL, organizadora destes festivais, em declarações publicadas pelo jornal A União, a 11 de Outubro de 2008, o evento “tem muitos seguidores que dão a volta à ilha para acompanhar os concertos”, estranhando que, os muitos jovens, rapazes e raparigas, que compõem as filarmónicas “vão para casa” quando acabam de tocar, mostrando-se “pouco interessados em conviver e em ouvir os outros músicos”. Este dinamizador cultural alerta ainda para o facto de que “os repertórios das filarmónicas na Terceira estão antiquados 50 anos, embora haja quatro ou cinco casos que o têm actualizado”.
Estes fenómenos, a par de outros inerentes às dificuldades existentes na vida quotidiana das filarmónicas, bem como aos bloqueios ao desenvolvimento destas instituições, já tinham sido publicamente abordados por Paulo Almeida, maestro de filarmónicas, através de um texto intitulado “Desfiles originais não aceites nas Festas da Praia da Vitória”, publicado no jornal Diário Insular, a 12 de Agosto desse ano.
Na sua opinião “as Filarmónicas nunca tocaram tão bem como hoje” porque, “de facto existe boa formação (embora pouca), o instrumental melhora de qualidade dia após dia, aumentam os cuidados com a afinação, melhores arranjos e peças musicais vão aparecendo lentamente nas salas de ensaio e nos concertos, desfiles e procissões. Aspectos estes que perspectivariam um cenário maravilhoso…”, mas contrariado porque “a grande maioria do público não se sente atraída” e “somente uma minoria dos músicos assiste aos concertos das Bandas irmãs”.
Este maestro defende que o problema reside em ter sido perdida a “capacidade de surpreender as pessoas”, constatando que “a crise nas Filarmónicas é causada pelas mesmas, pois estas evoluem demasiado devagar comparativamente com os nossos tempos.” Em alternativa propõe criatividade e irreverência, quer nas peças a executar, quer nas formas de apresentação, dando como exemplo o desfile temático realizado pela Filarmónica Progresso Biscoitense (realizado nas Festas Sanjoaninas 2008, em Angra do Heroísmo, e rejeitado pelas Festas da Praia 2008).
Dois dias depois, Tibério Dinis, no seu blogue “In Concreto”, afirmou que a discussão deste tema vinha a crescer timidamente no seio das filarmónicas e daqueles que apreciam o género. Concordou com Paulo Almeida no diagnóstico feito à situação, nomeadamente afirmando que “existe uma indesejável homogeneidade entre as bandas filarmónicas”. Discordou do mesmo quanto ao género defendido por Paulo Almeida, considerando-o “demasiado vanguardista (…) desarticulado com a realidade histórico-cultural das filarmónicas e longe das aspirações do público” apesar de assumir como certo que “os vanguardistas são o futuro”.
Tibério Dinis, também ele músico de filarmónica, apresentou as propostas de se “incentivar a criação de peças próprias (...), apostar na formação em conjunto com o conservatório, quer de músicos, quer dos próprios maestros, (…) introdução de novos instrumentos e de aperfeiçoamento em determinados naipes (…) bem como dotar o reportório dos mais variados géneros musicais de modo a estarem apetrechados para diferentes públicos.”
Por nós, apresentamos os parabéns a todos quanto criam, recriam e/ou executam música, bem como aos que se empenham na análise, discussão, projecção e promoção da mesma!
A terminar sugerimos a vossa visita ao blogue acima mencionado, alojado em
inconcreto.blogspot.com, por forma a apreciarem a constante e rica produção escrita e fotográfica apresentada por Tibério Dinis, “um lajense que divide o tempo entre o Ramo Grande e as Sete Colinas”.
José Aurélio Almeida
joseaurelioalmeida@gmail.com
* Adaptação de texto com título idêntico pertencente à série "Crónicas de Lava", produzido para o programa "Voz dos Açores" (transmitido pela rádio kigs.com) e publicado no jornal Diário Insular, a 22 de Novembro de 2008.


Faz hoje quatro anos que publicamos:
Hino da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos

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