domingo, 23 de abril de 2006
A Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos apadrinhou a nova Confraria do Chá Porto Formoso em Cerimónia de Entronização que se realizou ontem, na Fábrica de Chá Porto Formoso, na Ilha de São Miguel.
Segundo J. Pacheco, Presidente da nova entidade, a "Confraria do Chá Porto Formoso tem por fim reunir os estudiosos, apreciadores e amigos do Chá com a finalidade de promover e estimular a cultura e o hábito da sua degustação. Para prossecução dos seus objectivos, a Confraria do Chá Porto Formoso procurará ter como principais linhas de acção, a promoção de acções concretas no sentido da valorização do Chá, nos aspectos gastronómico, turístico, cultural e social."
Registe-se que a Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos também testemunhou o acto da insigniação da Confraria do Queijo de São Jorge (com aniversário deste acontecimento hoje, 23 de Abril, dia de S. Jorge) e apadrinhou a cerimónia da primeira entronização da Confraria do Vinho do Pico (14 de Setembro de 2003). Fonte: Jácome de Bruges Bettencourt, "As confrarias báquicas e gastronómicas dos Açores" in A União (13/Março/2006)
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14 comentários:
Encorajar a Arte. Desencorajar o Vício
Há 35 anos, as Confrarias Báquicas de 12 países, congregaram-se numa Federação a fim de defender e promover o Vinho no Mundo, jurando fidelidade à tradição da Vinha e do Vinho.
Nos nossos dias, e em toda a parte, as Confrarias são o garante do pretígio da Vinha e do Vinho, provando ao mundo inteiro que o Vinho continua a ser a mais saudável e a mais nobre das bebidas.
Para além desta afirmação essencial, cada uma delas confere à palavra Confraria o sentido nobre e respeitado que já os Antigos lhe haviam granjeado como forma de perpetuar as tradições.
A Confraria é uma família de substituição, que tece uma rede de relações numa sociedade difícil; é nesta família que cada um poderá acalentar o seu ideal, podendo afirmar que se a água separa os homens, o vinho reúne-os.
É nesta divisa de amizade e de compreensão que vivem os homens e as mulheres das Confrarias.
Todos os anos os Confrades encontram-se em Congresso num país vinícola do planeta. É um momento de «trocas» ao redor do Vinho, de descoberta de uma nova vinha, das diferenças, da descoberta de vinhateiros, de comunhão de alegrias e de dificuldades nos trabalhos da Vinha. É ainda a afirmação responsável dos trabalhos do Congresso quanto aos benefícios do Vinho na saúde e da necessidade do Vinho enquanto bebida quotidiana na alimentação.
O livro que reúne as Confrarias mais dinâmicas do mundo, reflete na palete dos seus trajes a afirmação das suas diferenças que, na altura dos encontros compõe o artifício da sua paixão.
Claude Josse
Presidente da Federação Internacional das Confrarias Báquicas.
In Livro das Confrarias, página 7
35 Congresso Mundial das Confrarias Báquicas.
Confrarias Báquicas
Uma ontologia associativa à volta do vinho
Por: Geraldo J. Amadeu Coelho Dias. FLUP
As confrarias báquicas, conforme o sentido óbvio das palavras, são instituições associativas que têm como referência a vitivinicultura, emblematizada por Baco, o deus romano do vinho. Elas traduzem, por isso, na modernidade, todo o apreço e cuidado cultural, comercial e técnico que o tratamento da vinha e do vinho merece.
I- O apreço do vinho
Desde tempos imemoriais, o vinho é uma das componentes da triologia básica(trigo, azeite, vinho) do sustento alimentar do homem que vive da bacia mediterrânica.
Não é, por isso, de admirar que algumas religiões atribuíssem aos deuses a sua origem, sobretudo no que toca ao vinho que sustenta, cura e alegra o homem. Assim, para os gregos, Dionísio era o deus do vinho e, para os romanos, lá estava Baco, prazenteiro e folgazão, inebriado com os etílicos aromas e deliciosos sabores do vinho. Em Roma, a aproximação do culto de Baco aos mistérios de Dionísio levou a tais excessos e licenciosidade e subversão (orgias de fraternidade e amor) que, por razões morais, religiosas e políticas, um senato- consulto de 186A.C. proibiu as Bacanais (Tito Lívio-Ab Urbe condita, XXXIX, 8,3-19,7). Desde então, o culto de Baco ficou conotado com erotismo e subversão moral e social, o que, naturalmente, veio adulterar a imagem e o culto inicial deste deus do panteão romano, mas sem conseguir diminuir o apreço que os romanos tinham pelo vinho.Eles conheciam um verdadeiro ciclo do vinho. Celebravam a 23 de Abril as Vinalia priora, festas das primícias do vinho em honra de Júpiter, e não de Vénus, como queria a sátira de Varrão, jogando sobre a etimologia de Vinus-Venus-Venenum. Só a 19 de Agosto é que celebravam nos campos a festa das Vinália rustica, tempo ou ciclo das vindimas, em que, de alguma maneira, se associava o culto de Júpiter, pai dos deus e fonte de todo o bem, com o de Vénus, deusa do amor e da alegria, de resto o ciclo do vinho encerrava-se com a festa Meditrinalia(nome talvez derivado de medeor=curar),celebrada a 11 de Outubro, quando, religiosamente, se degustava o vinho novo e se armazenava em "dolia" e ânforas. Niguém como os romanos desenvolveu o cultivo e a técnica de fabricação e conservação do vinho;niguém saboreou melhor o vinho no que ele tem de prazer e de regalo;niguémexplorou o estudo mais o carácter medicinal e curativo do vinho.
A Bíblia hebraica, na defesa acérrima do monoteismo e na luta contra a divinização das forças da natureza, desde o princípio tentou desmitologizar a origem do vinho, atribuindo-a à inventiva e trabalho do homem. É nesse sentido que a bíblia projecta para o reinício dos tempos pós-diluvianos a históiria da bebedeira de Noé ou, como se diria hoje, para começo do Neolítico, quando o homem deixou de ser recolector para se tornar sedentário, domesticando os animais, cultivando as terras.
O patriarca Noé, salvo por Deus do castigo do Dilúvio, empreendeu para a nova humanidade a tarefa da plantação da vinha e sentiu, pela primeira vez, os efeitos os inebriantes deste delicioso néctar. Apesar da narrativa etiológica de Gn.9,18-27, o Povo de Israel não deixou de apreciar que "alegra o coração do homem" (Sl.103, 15) e, mesmo reconhecendo os malefícios no excesso do seu consumo, valorizou o vinho em múltiplas dimensões, relacionado com a vida, a alimentação, a alegria, a felicidade, o prazer, tomado como sinal religioso da Aliança de deus com o Seu povo e símbolo da alegria do banquete escatológico no Reino de Deus. Para o homem bíblico, a idílica expressão "habitar debaixo da vinha" (Mq. 4,4; Zc. 3,10;I Re. 5,5:I Mcb. 14,12) com uma "mulher fecuda"(SI. 127,3),era símbolo premonitório de felicidade e de paz! O cristianismo não se afastou desta visão quase sagrada do vinho e jesus elevou-o a elemento sacramental para o sacrifíco do Seu sangue se perpectuasse em rito de eterno memorial: "Bebei todos, porque isto é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança"(Mt.26 ,27-28). E S. Paulo havia de recomendar ao seu discípulo Timóteo a conveniência dum moderado copo de vinho" por causa do estômago e das frequentes fraquezas" (I Tm. 5,23).
Aqui fica provado como, para os antigos, o vinho era tido em apreço pelo seu valor nutritivo, pelo seu carácter medicinal e pelo seu simbolismo religioso.
In Livro da Confrarias, 35 Congresso Mundial das Confrarias Bàquicas, páginas, 9-10.
II- Uma ontologia associativa.
Por:Geraldo, J.Amadeu Coelho Dias. FLUP.
Foi um filósofo grego Aristóteles (séc.IV A.C.) quem primeiro e melhor, quer do ponto de vista metafísico, quer do ponto de vista existencial, defeniu o ser humano como "animal político".Aristóteles intuiu,e bem,que o homem por natureza, de forma instintiva e espontânea, tende a inserir-se em grupos organizados, em espaços ordenados e estruturados. Era assim que os gregos chamavam a Pólis, cidade humana e urbanamente constituída, comunidade convivial e espaço harmonioso, onde os seres humanos encontram a satisfação do viver e do seu relacional "estar com os outros".
Na longa diacrocia do processo da humanização e da auto-realização, o homem, logo que fez a divisão do trabalho, criou a diversidade das tarefas e profissões. Na verdade, ele encontra a satisfação da complementariedade e torna-se como que por necessidade, senão mesmo por instinto, asociativo: associativo no modo de viver em matrimónio para se perpectuar; associativo no modo de viver em aldeias ou cidades para se ajudar e defender; associativo na religião para se sentir unido e favorecido dos deuses; associativo nas profissões para se complementarizar nos trabalhos e garantir o progresso.
Gregos e romanos conheceram diversas formas de associação cultural, religiosa, política e profissional.Dos gregos são conhecidos as liturgias, os trabalhos assumidos comunitariamente para certas realizações de interesse comum na defesa, no bem público da Pólis,na religião. A palavra LITURGIA,assumida pelo culto cristão. como termo técnico a indicar as grandes reuniões religiosas do povo cristão ao serviço e em honra so seu Deus.
Os romanos bem cedo criaram os Collegia, agremiações de solidadriedade com fins sociais e caixa comum em relação aos membros que os integravam. Precisavam de aprovação do senado ou do Imperador para terem personalidade jurídica,que era regida pela "Lex Collegii",mas, na sociedade romana. a ideia associativa acompanhou o progresso da própria civilização.Também lhes davam o nome de "Confraternitas","Piae causae", e havia "Collegia Templorum" para o culto dos deuses,"Collegia militum" para os legionários reformados, "Collegia funeráticia"para o serviço dos enterros e "Collegia opificium" ou corporações de artífices profissionais: Autrifonarum,fabrorum,mercatorum,naviculari,sabriani. Num belo mosaico da velha Óstia, junto à emboscadura do Tibre. lá está a representção dum colégio de marinheiros comerciantes que se dedicavam ao transporte de vinho, bem como emblematizado no barco carregado de pipas.
A Idade Média cristã, herdeira de muitas instituições romanas, introduziu uma nota diferencial e mental, tirada da própria religião. Prevaleceu o nome de "Confraternitas", entre os de "Congregatio","Sodalitas", Pia unio"; daí deriva a nossa designação de Confraria ou Irmandade para indicar o vínculo cristão da união de todos em Cristo como irmãos. A Confraria ou Irmandade da Misericórdia,entre cristãos, ficou como figura emblemática da ideia de bem - fazer e praticar as obras cristãs de misericórdia, tanto espirituais como corporais. Foi entre os séculos XII-XV, tempo das cidades e das grandes construções góticas, que ganharam força as Confrarias de Mesterais ou de Mesteres. Eram associações de trabalhadores especializados, corporações de ofícios, autênticas organizações profissionais.Cada Confraria tinha o seu santo padroeiro, sua capela ou igreja, sua bandeira, suas insígnias, sua festa, quando não narua. Funcionavam como sociedades de socorro mútuo, com fins temporais e espirituais,em caso de incapacidades, doença, velhice e funeral.
Tinham organização hierquizada, com receitas de entradas, cotizações anuais ou mensais, e ofertas.
Em França, porque também tinham dimensão política, foram proibidas a quando da Revolução Francesa, em 1891. No Porto medieval eram instituições de prestígio, tinham mesmo hospital ou hospício, participavam, de forma hieárquica, de bandeira alçada, na célebre Procissão do "CorpusChristi" e estão, de certa forma, assinaladas na toponímia do velho burgo, algumas conservando ainda precioso recheio docomental:Confraria dos Caldeireiros e Ferreiros na Calçada da Senhora da Silva,Rua dos Caldeireiros;Confraria de Sapateiros e Correeiros na Capela de S. Crespim e Crepiniano, tranferida da velha Rua das Cangostas para o alto da Rua Santos Pousada; Confraria dos Ourives com altar na Igreja de S. Nicolau.
Depois apareceram as Confrarias ou Irmandades de tipo meramente religioso e esperitual, como Confrarias do Subsigno, do santíssimo Sacramento, do Rosário, e de tantos santos de devoção popular, sobretudo após o Concílio de Trento, séc.XVI.
No Portugal moderno, a partir do século XIX, prepassou uma onda de associativismo laical, que começou com lojas maçónicas, numa espécie de independência face ao domínio autoritário e mental da igreja. Estendeu-se, por força de iniciativas artísticas, culturais, sociais, recreativas, desportivas. Com a liberização contemporânea, então, o associativismo ganhou foros de reinação, mesmo ao nível das associações de gastronomia e vitivinicultura. De resto, o trabalho da vinha e do vinho sempre assumiu uma dimensão associativa, bem patente no trabalho das vindimas.
É pois, neste contexto que devemos inscrever as Confrarias Báquicas. Por sua natureza, estão orientadas para ser associações de confraternização e amizade no sentido de promover o vinho, emblematizado no deus Baco, em todas as dimensões:alimentar,medicinal, honoríficas,religiosa.Se o nome ainda traz o estigma da depreciação romana, que proibiu as bacanais, na realidade as Confrarias Báquicas, também chamadas enófilas, têm importância comercial, social e cultural. Nada de as confundir com clubes de amigalhotes para uma noitada de farra e sabor duns copos.Elas asseguram a impotância do vinho, quando, nos banquetes reais, se prestava a todo um delicado ritual quie, ainda hoje, transparece nas provas vinícolas. É ver a delicadeza com que os escanções tiram a rolha da garrafa, o jeito com que baldeiam o vinho no copo e aspiram o "bouquet", a mestria amaneirada como o provam.
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As Confrarias Báquicas t~em hoje, por isso, uma orientação cultural, nobre e generosa, de certo modo, atá elitista. De mãos dadas, autarcas,enólogos e enófilos, médicos e estudiosos, une-os o interesse pelo vinho no que tem de bom, útil e até necessário.
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In Livro das Conrarias,páginas10,11,12,13 e 14.- 35 Congresso Mundial das Confrarias Báquicas. Ano de 1998.
As Confrarias Báquicas ao longo dos Séculos
Abundam, na actualidade, as confrarias báquicas e gastronómicas, que vieram movimentar bastante, depois de 25 de Abril de 1974, o panorama português nas áreas do vinho e das iguarias, pois nunca nos tempos modernos, até essa altura, fora permitido criar, fora do âmbito religioso, associações com esse nome e também de irmandades, congregações ou uniões, desde tempos remotos ligadas à Igreja Católica.
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Avesso aos partidos, cuja formação proibia, e ao associativismo que dificultava o mais possível, o Estado Novo, resultante do Movimento de 28 de Maio de 1926, não autorizava que se constituissem confrarias como agremiações de enófilos, obstando que personalidades da produção e comércio as organizassem, como sucedeu no sector do vinho do Porto, cujos empresários pretendiam fundar uma delas para apoio ao prestígio e promoção do famoso néctar, o mais nobre entre todos, conhecido no mundo inteiro desde que passara a ter incremento internacional.
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A Confrairie de la Corne", nascida na Alsácia em 1586, terá sido das primeiras a "ver a luz do dia" e em 1656 foi criada a "Ordre des Coteaux", cuja existência é revelada por Boileau na terceira sátira em verso de "Diner Ridicule", ao passo que a "Ordre de Méduse", teve origem em 1683, em Toulon, graças ao intendente de Marinha,M.De Vibray, mantendo-se desde então activas até à actualidade estas duas agremiações.
(...)
In Santos Mota,CONFRARIAS BÁQUICAS PORTUGUESAS,Breve história do seu movimento associativo.pp 5,6,7
Nota: Neste interessante livro vem referenciadas as Confrarias do Vinho Verdelho dos Biscoitos(ilha Terceira) e a Confraria do Vinho do Pico.
Enófilo é, no entender do Ilustre bairradino, Exmo.Senhor Luiz Ferreira Costa:
Enófilo é aquele que, amando o vinho, enaltece e usufrue o que de civilizado prazer, cultura e espírito, ele proporciona.
In Algumas Considerações acerca do conceito de ENÓFILO,Luiz Ferreira Costa,Anadia,página 5- ano 1986.
A Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, é uma associação, que tem por ojecto a defesa ,promoção , valorização e divulgação do Vinho Verdelho dos Biscoitos e vinho de qualidade da Região Autónoma dos Açores.
A Confraria é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos.
Esta Confraria actua com total independência e isenção política e religiosa.
(...)
Caros bloggers,
fotos da cerimónia de entronização da Confraria do Chá Porto Formoso em www.acasadamosca.blogspot.com
cumprimentos,
Bruno Raposo
"(...)nas confrarias báquicas, julgamos de justiça referir uma alta individualidade que às mesmas tem dispensado o maior interesse. Trata-se do engenheiro agrónomo João José Carvalho Ghira, que tem desempenhado os mais altos cargos no meio vitivinícola".
In Nobre Veiga, A Enologia portuguesa- subsídios para a sua história.Livraria Sá da Costa Editora.pg.261.
Neste livro vem referênciada também a Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos.
Catarina de Sena
Para além das associações enófilas, havia como já li nos comentários anteriores,as dos "Francos Bebedores", infelizmente ainda em actividade.
Francos Bebedores- Tal era a denominação de uma Ordem, também chamada de "la boisson", fundada em França no ano de 1703 por um tal mr. de Pasquières, "borracharão" emérito.
O brazão da ordem era um escudo cercado de pampanos, tendo ao centro duas mãos, uma das quais empunhava uma garrafa vertendo vinho, e outra aparava um copo. Por baixo lia-se esta divisa:
- Donec totum impleat- A prova mais importante por que passavam os neofitos para obterem a sua iniciação na ordem consistia em esgotar de um só trago o "copo da cerimónia", enorme cangirão cheio de vinho, operação esta que, em frase de taberna, se chama - empinar o sino grande-Todos os sócios adoptavam nomes especiais alusivos aos fins da instituição, tais como - Irmão João de las Vinhas, Irmão Bebe-sem- água,etc.Houve um porém que, não se contentando com tão modestos pseudóniomos,adoptou o nome pomposo cognome de D. Barriques Caraffa Y Fuentes Vinososas.
A função cultural das Confrarias
Vivemos num País onde, por carências educativas, (in)formativas e culturais, não é difícil encontrar pessoas que tenham, das Confrarias, uma ideia completamente errada.
Conforme seja o objectivo a que se dedicam, religioso ou profano, e, o folclórico elitista. O que é uma enorme injustiça, uma vez que as Confrarias, seja qual for o objecto dos seus estatutos, têm sido, ao longo dos tempos, um dos maiores suportes da preservação e divulgação das nossas mais genuínas tradições europeias.
Tendo a sua génese na Idade Média, quando também eram conhecidas por Irmandades, as Confrarias, sem deixar o rigor dos seus procedimentos, no caso, designados por rituais, foram-se diversificando conforme os interesses que queriam preservar.As Misericórdias que tiveram o seu início nessa época e cujo impulso primordial se deve a S. Pedro, Mártir, da ordem dps pregadores, nascem de uma Irmandade, em 1244, na cidade de Florença e são um excelente exemplo da forma como evoluiram as Confrarias daqueles tempos.
Para além das Confrarias de Devoção a diversos Santos, havia, igualmente e com rituais semelhantes, Confrarias de Trovadores, de Músicos, de Artesãos e, um pouco mais tarde, aparecem as Confrarias Báquicas.
Porque precisava de vinho para determinados actos religiosos, a ligação e o apoio da Igreja católica foi fundamental para o desnvolvimento e divulgação dos vinhos, chegados a recomendar ou instituir regras para a sua produção. Ao longo da História são inúmeros os factos que provam esta estreita relação. O Papa Clemente V, antes de ser eleito em 1306, enquanto Arcebispo de Bordéus plantou uma vinha que depois ficou conhecida como a vinha do Papa e que hoje ainda é um dos Chateaux mais reputados da Região de Pessac-Léognan. Também o Papa Paulo III(1534-1559) ficou ligado à História do vinho, porque contratou um historiador e geógrafo, Sante Lancerio, considerado por muitos como o primeiro escanção, para seleccionar os vinhos que deveriam ser consumidos no Vaticano. Não podendo esquecer a imensa ciência acumulada pelos Monges, que na quietude dos seus Mosteiros, como os de Cister, Cluny e outros, normalmente irmanados nas suas Confrarias, estudaram, desenvolveram e difundiram, notáveis produtos vínicos, ainda hoje muito apreciados e procurados como verdadeiras obras-primas da nossa cultura gastronómica.
Juridicamente consideradas como "pessoa colectiva de direito privado e sem fins lucrativos", as Confrarias podem ser definidas, de uma forma genérica, como Associações de amigos e amigas que partilham um interesse comum pela cultura do vinho e que se reúnem periodicamente, quer para o celebrar em festas gastronómicas e populares, quer para estudar e divulgar em jornadas de trabalho, mantendo como preocupação principal a preservação da ricas e belas tradições tanto na história social do vinho como na contribuição para a instituição dos hábitos civilizados e moderados do seu consumo.
(Continua)
(Continuação)
Tendo como principal elemento diferenciador o Traje, cujo figurino é cuidadosamente inspirado nos mais genuínos e caractrísticos hábitos e costumes onde se inserem, o funcionamento das Contrarias Báquicas ou Enófilas é muito semelhante.
(...)
Para dar força à defesa dos obectivos prosseguidos pelas Confrarias, em Julho de 2000, foi constituída a Federação das Confrarias Báquicas de Portugal, actualmente com a sua Sede no Porto e na qual estão inscritas as seguintes Confrarias, ordenadas pela data da sua fundação:
- Confraria dos Enófilos da Bairrada(11-06-79
-Confraria do Vinho do Porto (12-11-82)
-Confraria do Vinho Verde (26-02-88)
-Confraria do Vinho da Madeira (22-04-89)
-Colegiada dos Enófilos de São Vicente(13-10-89)
Confraria dos Enófilos do Douro (19-07-90)
-Confraria dos Enófilos do Alentejo (29-06-91)
-Confraria dos Enófilos do Dão (05-12-91)
-Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos (10-03-93)
-Confraria de santo Onofre (04-03-94)
-Confraria dos Enófilos da Estremadura(20-04-94)
-Confraria Enófila de Nossa Senhora do Tejo (24-05-2000)
-Confraria dos Jornalistas dos Vinhos Portugueses (04-2001)
-Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação(2004)
(...)
António Rodrigues. Vice Grão-Mestre da CENST
In Publicação da FCBP- Federação das Confrarias Báquicas de Portugal
Vinhos de Portugal
Wines of Portugal- 2006
Caros Anónimos:
Quem diria que a nota sobre o apadrinhamento pela CVVB da nova Confraria do Chá Porto Formoso iria provocar tal apresentação de excelentes textos sobre as confrarias, desde a sua origem e história, até à actual organizagão federativa passando por interessantes explicitações sobre a sua definição e a dos seus membros.
Deveras surpreendidos, mais ainda agradecidos, notamos com muita satisfação este "banho" cultural que nos ofereceram.
Caros Catarina de Sena e Petronilha:
Apreciação idêntica à nota anterior fazemos aos vossos comentário.
Obrigado.
Caro Bruno Raposo:
Agradecemos a vossa indicação.
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