domingo, 12 de fevereiro de 2006

Actuação de Danças da Terceira Idade

Já começou o típico Carnaval Terceirense. Como habitualmente, o arranque é dado pelas danças da Terceira Idade.
Segundo o jornal "A União" (3/Fevereiro/2006) "para este Carnaval perto de oito grupos (de idosos) de diferentes freguesias vão actuar pelos salões da ilha."
De acordo com a mesma fonte, os grupos de idosos dos Centros de Convívio actuarão hoje, dia 12, entre o Raminho e a Vila Nova, passando naturalmente pelos Biscoitos.

20 comentários:

Anónimo,  12/2/06 13:47  

(...)
" A enorme quantidade de textos recolhidos(sem incluir as dezenas de bailhinhos e comédias em verso e prosa que também fui coleccionando e cujo destino ainda não está decidido) exigirá forçosamente a publicação de vários volumes caso pretenda colocar em livro este importante acervo do património cultural do Povo da ilha Terceira.
Na impossibilidade de proceder, sózinho, a tão gigantesca tarefa, apresentei uma proposta à Direcção Regional da Cultura dos Açores no sentido de ser apoiada a publicação de um primeiro volume com a inclusão de um pequeno estudo introdutório, algumas gravuras e fotos resultantes de trabalho de campo e uma antologia de textos com «assuntos» versando os principais temas que «saiem» nas danças, bem como um glossário.
Num segundo volume, incluir-se-iam os textos da colecção de Frederico Lopes Jr.(João Ilhéu) guardada no Arquivo de Angra do Heroìsmo.
Os restantes volumes incluiriam textos da minha colecção, ainda não publicados, agrupados por anos de saída e com as notas e indicações que, para cada texto, se escrevessem ou justificassem.
A aprovação desta proposta tem o seu resultado prático no volume que, agora, aqui se inicia"
(...)
"Tentarei ainda demonstrar que as danças da ilha Terceira são uma forma própria e de grande originalidade(sem negar influências diversas, como é óbvio) encontrada pelos poetas populares terceirenses para contar histórias como enversando grandes temas da vida religiosa, bíblica,histórica e literária que ouviram ou leram geralmente em pequenos folhetos de divulgação popular.
E que é possível, com alguma segurança, apontar-lhes antecedentes remotos(como que o estabelecimento de uma linhagem) e recentes, situando estes nos finais do século XIX, inícios do Século XX, com nomes e documentos"
(Por Jósé Noronha Bretão)

(...)

In José Noronha Bretão,"As Danças do Entrudo uma Festa do Povo".Teatro Popular da ilha Terceira . 1.º Volume.Angra do Heroísmo.1998,pp 20/21


Nota:O autor não teve a felicidade de ter em suas mãos quer o 1.º e 2.ºvolumes.

Agora com tantas "reestruturações culturais e extinções..."
É caso para perguntar do que é ou será feito dos documentos por publicar, que dão para mais de 8 volumes!?
Estarão ainda na Direcçaõ Regional da Cultura dos Açores?
Foram "lançados" os dois primeiros e agora os restantes...
Este valioso acervo é de tamanha importância! Não se trata de "albuns fotográficos"...
Caro prof. José Aurélio não esqueça isto.Esta é também a minha homenagem a José Noronha Bretão e a este Blog sempre atento a questões desta natureza e não só.

Anónimo,  12/2/06 15:39  

Caro Prof. Aurélio, é Carnaval não leve a mal!

"As Danças do entrudo"

(...)

As danças são de facto uma das mais complexas expressões da cultura popular.
Se a linguagem é filha do ambiente geográfico, histórico e social em que vive, e a música o seu complemento lógico, a coreografia,animando-as com o ritmo do gesto, dá-lhes vida intensa, fecundando-as daquela mesma «arte plática» que as mãos calejadas do povo nos revela no afeiçoar dos mais ingratos materiais, utilizando rudimentares ferramentas e primitivos métodos de realização.Assim, as Danças foram sempre, e ainda hoje são, uma forma de o povo exteriorizar o seu contentamento e dar largas ao natural impulso da sua alma sentimental e poética, com factos da vida real que mais de perto tocam a sua sensibilidade e as deformações quotidianas com o meio ambiente.
(...)
Mantendo embora facetas que são comuns às de outras terras,como por exemplo no que respeita às figuras do «Mestre» e do «Velho» ou «Ratão», as Danças Terceirenses não podem, a meu ver, incluir-se inteiramente em qualquer das modalidades coreográficas que a Tradição manteve até nossos dias, quer no Continente quer nas restantes ilhas deste Arquipélago."

In Frederico Lopes (joão Ilhéu), Ilha Terceira Notas Etnográficas, Instituto Histórico da Ilha Terceira .Angra do Heroísmo ano 1980,Capítulo XI.Danças do Entrudo,páginas:363 a 375.

Luzia Cordeiro Rodrigues * luzia.blog@gmail.com* 13/2/06 22:56  

Devo dizer que o bailinho de idosos da Casa do Povo dos Biscoitos está muito bem conseguido. Estão todos de parabéns!

José Aurélio Almeida 20/2/06 00:04  

Caros Anónimos:
Agradecemos a inclusão, neste espaço, das citações de duas belíssimas referências do estudo do ímpar Carnaval terceirense.
Se nos é permitido associamo-nos à homenagem, por esta via, a José Noronha Bretão e também a Frederico Lopes.
Vamos fazer por não esquecer as dicas deixadas no primeiro comentário, até porque esse manancial documental nos interessa também, mormente pelo facto de que decerto conterá elementos históricos ligados aos Biscoitos.

José Aurélio Almeida 20/2/06 00:07  

Cara MCapote:
Realmente a freguesia dos Biscoitos tem sido produtiva em termos de actividades.
Em relação aos deafios por si lançados informo que já os aceitei, nos respectivos espaços de comentários.
Agradecemos e retribuímos votos de boa semana.

José Aurélio Almeida 20/2/06 00:07  

Cara Luzia:
Agradecemos a tua participação e relevante dica.

Anónimo,  21/2/06 21:31  

(...)

A palavra DANÇA tem, na Terceira, diversos significados:

- DANÇA é o próprio espetáculo, e é por isso que nos três dias de Entrudo se diz «vou correr as danças» significando «vou dar a volta à Ilha, de dia e de noite, para ver os espetáculos»;

- DANÇA é ainda o GRUPO que a faz.
E é assim que se diz a "Dança do Porto Judeu, a Dança do Caminho de Cima, a Dança das Lajes,etc.;

- DANÇA é também o próprio "enredo ou assunto": e diz-se a "dança da Maria Madalena, a dança da Brianda Pereira, a dança da forca, etc.;

-Dança, por último, é a parte propriamente dançada, coreografada, do espetáculo e tem a ver, sobretudo, com a parte inicial (antes da ENTRADA)e com o final (depois da DESPEDIDA).

In Festas Populares dos Açores. Francisco Ernesto de Oliveira Martins 1985.DANÇAS DO ENTRUDO. por José Noronha Bretão, pp 273 a 279.


Nota: José Bretão(página 278)
(...)

Mas mesmo assim e apesar de tudo ainda é possível ter notícia de cerca de 300 textos(e o autor destas linhas tem mais de 100 anotados e estudados)todos diferentes.
(...)

Anónimo,  23/2/06 17:04  

Já cá faltava um dos contra...

Contradança: (origem da palavra). -Parece que a etymologia d'este vocábulo está naturalmente indicada, desde que a "contradança" é formada de pares dispostos em alas que dançam uns "contra" os outros. É, contudo, outra a origem. A contradança é de procedência ingleza, onde a princípio era usada exclusivamente pela população rural.D'aí veio a denominação de "country danse" (dança camponeza) d'onde nasceu a palavra "contradança".

Matias

Anónimo,  25/2/06 18:43  

Chacotas, bugigangas e muchachins


Actualmente a palavra "Chacota" é empregue no sentido de "zombaria, e "bugiganga" com o significado da "bagatela", ou miudeza de pouco valor. Não era assim em outro tempo. Ambos os vocábulos designavam danças populares, que acompanhavam as procissões, e se ostentavam nas festas públicas; com a diferença, porém, de que as "bugigangas" ou "mugigangas"eram compostas de indivíduos mascarados de macacos(bugios) e outros animais.
Havia também os "muchachins" ou danças só de rapazes(muchachos), também mascarados, e finalmente as danças guerreiras.Umas denominadas "mouriscas" e outras "pyrrhicas" (de Pyrrho) reminiscência da Grécia antiga.
Nas procissões havia sempre grande cópia destas exibições, que davam aqueles actos religiosos a aparência de famosas mascaradas.
Sebastião da Fonseca e Paiva, versejador do século 17º. descrevendo uma procissão que se realizava em Lisboa no seu tempo, alude ás seguintes danças e folguedos, que nelas figuravam:
- Chacota mulatinha, carro dos hortelões, dança da "Bugiganga", "muchachins" da Anunciada, dançadeiras d'Alfama, etc.
Também na «Relação do triunfo com que em Lisboa foram recebidos os sereníssimos reis D. Afonso VI e D. Maria Francisca Isabel de Saboya, em 29 de Agosto de 1666 - por um anonimo» - se lêem os seguintes versos, relativos á descrição dos festejos:


Duas chacotas de fora
Com outras mil danças varias,
E á chacota do cego
Ultimo lugar se dava.


Vê-se, portanto,que estas mascaradas populares tanto serviam para o sagrado como para o profano. Actualmente não está de todo banido nas solenidades religiosas.Ainda há poucos anos, "Gigantes" do minho, a "coca" e o "carro das das ervas", de Monsão , a "serpente sagrada"" de Amarante, a "morte" de Bragança, o "homem de ferro" de Santarém, "o pagem de S. Jorge" e os "pretinhos" do Corpo Christi por todo o país, etc.

Cesário

José Aurélio Almeida 26/2/06 00:54  

Sobre as Danças, Contradanças, Chacotas, Bigigangas e Muchachins:
Mais três comentários, mais três relevantes contributos para a explicação e conhecimento de termos e realidades inerentes à cultura popular.
Aos comentadores o nosso reconhecido agradecimento.

Anónimo,  27/2/06 16:08  

Sinais de desaprovação nos teatros:

Na Grécia antiga os espectadores, se não estavam contentes com os actores, atiravam-lhes figos, azeitonas, engaços de uvas e coisas do género, como consta da "apostrophe que Demosthenes",que fora actor.Não era isto bom, mas sempre melhor do que arremeçar moedas de bronze de 40 réis (patacos),como fora anteriormente usado.
Parece que a prática de assobiar para reprovar, e a de bater as palmas para aplaudir teria começado em Roma, no tempo d'Augusto. O uso de patear não sabemos quando começou.
Ainda hoje o hábito de comer pipocas e trincar favas e fazer rolar as garrafas vazias permanece. Felizmente que ainda não se lembraram de as lançar contra os artistas...

Anónimo,  27/2/06 16:46  

Rossini era um apreciador dos bons bocados. A este respeito a revista alemã Die Musik publicou no começo do século passado algumas frases inéditas e curiosas do grande músico italiano acerca da arte de saber comer bem (fora do teatro!).Entre outras coisas diz:
«O que o amor é para a alma, é o apetite para o estômago. Este é o maestro que dirige e põe em acção a grande orquestra das paixões, o estômago vazio dá-me a impressão d'um fagote que ronca de descontentamento, su d'uma flauta, que soa desesperadamente:pelo contrário o estômago cheio tem a expressão dos ferrinhos, é o tímpano da alegria. Comer e amar, cantar e digerir, são os quatro actos da ópera cómica chamada a Vida e passam como espuma d'uma garrafa de Champagne. Quem a deixa fugir sem a ter saboreado é um tolo perfeito».

P.S. em vez d'um Champagne um dos muitos e óptimos Espumantes portugueses.

José Aurélio Almeida 27/2/06 23:03  

Caros Anónimos:
Desculpem-nos responder a ambos em conjunto, mas surgiu-nos a ideia de comentar ambas as lições aqui deixadas interligando-as.
Antes disso registamos o nosso agradecimento pelos vossos riquíssimos contributos.
Para nós, e de espectáculos falando, um bom bocado é aquele em que o desempenho dos artistas nos impele a erguer da cadeira (ou banco) e aplaudir de pé. Esta será uma das formas mais expressivas de recompensar a arte e o esforço de quem actua.
Pena é que, segundo nos é dado observar, por muita arte e esforço que os nossos artistas locais revelam no Carnaval terceirense (e conseguem-no tantas e tantas vezes), raríssimas sejam as ocasiões em que são recompensados com um aplauso colectivo com o público de pé.
Em contrapartida, e decerto também com o intuito de responder à forma intensa e horários alargados em que os grupos de Carnaval circulam pela nossa ilha, estes artistas são contemplados, ao fim de cada actuação, com uma mesa recheada de apetitosos alimentos e bebidas, maioritariamente refrescantes. Entre estas não terão lugar (pelo menos vulgarmente) os espumantes portugueses, mas com frequência surgem outros néctares, como vinhos do Porto ou Verdelhos.
Não há dúvida de que esta etapa carnavalesca da vida terceirense é feita como muita alegria, muito canto, muita dança, muita representação, mas também com alguma degustação e digestão. No conjunto... o amor por uma das mais belas e ricas tradições que temos.

Anónimo,  27/2/06 23:44  

Onze dias antes da melancólica solenidade da Cinzas, isto é, no sábado anterior á Sexagéssima, Roma, a austera cidade dos Pontífices, inaugurava as folias carnavalescas que terminavam na noite de terça-feira gorda.Em obediência a uma velha determinação da egreja, a sexta-feira e os domingos eram consagrados ao Senhor. Nesses dias suspendia-se a bacanal. Roma tinha, pois, oito dias para se divertir, e tinha-os graças á amável condescendência dum pontífice que em 1818 amplou o período das festas, nessa época limitada a um só dia - a terça-feira.
Nas proximidades da solenidade religiosa da Sexagéssima , a velha cidade, de ordinário tão piedosa e casta, agitava-se num movimento extraordinário. Os alfaiates concluiam os opulentos vestuários com que a nobreza romana se disfarçaria em mágníficos imperadores do oriente, com os seus séquitos maravilhosos de príncipes e dignatários. Os estofadores atarefavam-se na ornamentação das artísticas janelas dos palácios rendilhados. Os carpinteiros e marceneiros erguiam nas ruas e praças bancadas e pavilhões donde comodamente se avistava o desfilar dos brilhantes cortejos. As janelas das casas do Corso, das praças do Povo, Colonna, Veneza, etc.,alugavam-se por preços fabulosos. E em todas elas , tapeçarias custosas,damascos caros, veludos de altos preços, brilhavam numa disposição fantástica de cores. Numa das praças das imediações do Corso levantava-se o «Mannaja». E este número do programa era um dos que o povo com mais anciedade esperava. «Mannaja» era ...um cadafalso!
Quando, nas proximidades do Carnaval, algum criminoso era condenado á morte, a justiça conservava-o cuidadosamente para que a sua agonia servisse de distracção ao cristianismo povo romano! Antes do sino do Capitólio repicar festivamente, anunciando a abertura das festas carnavalescas, o desgraçado, vestindo uma túnica grotesca, era processionalmente conduzido ao «Mannaja» a aí executado! A praça regorgitava de povo. E a multidão acolhia com gargalhadas e apupos o estertor do condenado...
Esta bábara usança foi abolida, nos começos do século XIX, sob a dominação francesa. Restabelecida mais tarde pelos papas, que não quizeram privar o seu povo de tão admirável espetáculo,foi abolida definitivamente mo pontificado de Pio IX.

O sino do Catitólio repicava precisamente á uma hora da tarde, terminada que fosse a execução capital. Era um sino histórico. Tinha pertencido a Viterbo,e não tocava senão para anunciar a morte e a eleição dos pontífices e a abertura do Carnaval.
Roma esperava com ancia que o relógio batesse a hora oficial. E quando ela soava, argentina e solene,de todos os lados, em direcção ao Corso, rodavam equipagens riquíssimos tiradas a dois, quatro e seis cavalos, e corriam, desengoçando-se como contorcionistas, agitando-se como epilepticos,cabriolando como palhaços, saltando como macacos, uivando, gritando, numa orgia mais ferz do que nas Santurnais pagãs, bandos enormes de arlequins, de dominós,de principes, de aldeãos, de personagens do teatro italiano, de pierrots, de bandoleiros da Calabria, de montanhezes, de «pagliacette»,etc. As equipagens rodavam lentamente, umas descendo, outras subindo o Corso.Vinham então as cavalhadas de luxo, representações grotescas de cenas mytologicas ou históricas, gigantes, monstros de toda a espécie, grandes senhores com as suas côrtes e as suas guardas. Choviam de todos os lados os »confetti», de assúcar e com essências finas, para a nobreza, de gesso e com pimenta, de farinha ...
Despejavam-se sacos de farinha, jogavam-se ovos e laranjas, das janelas as senhoras atiravam flores, rebuçados, ovos de cheiro. O tumulo era espantoso, e nã eram precisas muitas horas para que, ficando apenas em campo o povo, o Corso se transmasse numa sortida esterqueira, onde a garotada, em farrapos e uivando, se espojava como se tivesse o diabo no corpo...


Nos últimos três dias a animação era extraordinária. Na terça-feira realizava-se a corrida de cavalos, um espetáculo bábaro que o povo aplaudia com frenesi.Durante alguns minutos os animais lutavam uns contra os outros e com os homens que neles se agarravam ou nos focinhos ou nas crinas.Mas a multidão gritava:«La mossa!La mossa!»
Então os cavalos partiam á desfilada, indo esbarra-se numa enorme tela que, como um muro, se estendia no Corso, entre os palácios Tornolia e Veneza. O juiz da corrida proclamava o vencedor, e a multidão atroava o ar com as suas aclamações saudando o animal vencedor.
Acendiam-se depois as iluminações, tocavam as músicas, recolhiam as equipagens de luxo e as grandes cavalhadas faustosas. E quando o histórico sino, que as tropas pontíficias trouxeram de Viterbo, dava do alto do Capitólio, as badaladas tristes anunciando o fim da orgia, toda a animação cessava, um grande silêncio se fazia, e algumas vozes lugubres, como no final duma tragédia exclamavam:

-É morto il carnaval!


Á última badalada do sino pontifical, das fantásticas iluminações que ardiam mo Corso, nem a luz mortiça dum «moecoli» brilhava. A multidão dispersava grotesca nos seus trapos multicores, como fantasmas que lentamente se dissolvem. Em alguns «trattorie» ceava-se, pacatamente, sem ruído. Nos salões de baile, os violinos esmoreciam, acompanhando o cansado rodopio dos raros valsistas que se moviam em movimentos arrastados. A caminho de casa,os que passavam pelo sítio pavoroso aonde se erguera a«Mannaja»benziam-se e murmuravam um«Pater» por alma do desgraçado que ali morrera entre o estridor das músicas e os uivos da canalha. Das casas de prazer vinha um ruído baço e mole, de gente saciada. Ás onze horas o Corso estava deserto. E quando a meia noite soava, Roma era como uma cidade morta. Todo o rumor tinha cessado, e apenas um ou outro vulto tardio, que a solidão e a treva tornavam mais espedtral, se dirigia para casa, enquanto para as bandas do vativano uma sineta espalhava no ar um som magoado,de tristeza e dôr, lembrando ao homem o pó donde viera e em que se há-de transformar um dia...

Firmino Pereira

Anónimo,  1/3/06 13:35  

Divertimentos

Toda a pessoa tem necessidade de recreação.
O espírito humano, para robustecer-se e mais apto se tornar para a luta vital e labores úteis,carece das distracções, que obram como remédios calmantes, ao mesmo tempo que tonificantes.
Após um dia de trabalho, algumas horas de alegria, de recreio são de uma vantagem extraordinaria para o organismo, antes do repouso reparador do sono.
As pessoas que não se divertem concorrem para um estiolamento, depauperamento espiritual e podem ser atacados de melancolia e psicoses (moléstias mentais).
Não é muito raro encontrar-se a loucura, a histeria e outras nervroses, tendo sido despertadas pela absoluta falta de diversão.
É bem conhecido o importante papel que desempenham os brinquedos , na idade infantil.Uma criança sem brinquedos é uma criatura quase sem vida!
Um rapaz e uma rapariga que não se distraem são dois entes que se definham moralmente, que se condenam a uma pena injusta e lastimável!
A mulher casada, sem distrações, adoece e aborrece quem a rodeia.
O homem casado, se não procura distracção, torna-se nervoso, irritável, neurastémico,agressivo, rancoroso,vingativo, imcompatível com quem o rodeia.
Os velhos devem a maior parte de suas rabugens á falta de recreações, pois aqueles que se distraem estão sempre de bom humor.
É pois, indispensável á saúde física a prática e uso dos divertimentos.
Ora se podemos considerar os entretenimentos como fazendo parte da higiene...

(...)

Mário Rocha

Anónimo,  2/3/06 13:12  

(...)
Ora se podemos considerar os entretenimentos como fazendo parte da higiene, é claro que importantes são as empresas desse ramo de negócio.Para divertir-se é mister escolher o género que mais agrada ao espírito. Nem todos suportarão a dança, a corrida de cavalos, o "foot ball", a caçada,a pescaria.
O teatro é a diversão predilecta de muitos, mas ainda há a distinguir o género teatral.Uns apreciam o drama, outros, o lyrico e uma ou outra parte de cada população é admiradora da comédia, das variedades, da prestigiditação, da magia, da acrobacia, da equitação e trabalhos ginásticos.
Os passeios campestres constituem a maior atracção de certas pessoas.
A vida das avenidas, a convivência nos cafés são algumas das distracções. Há quem aprecie as touradas, as brigas de galo, de canários e de formigas etc.
A luta romana é um passatempo de muita gente.
Em suma, divertir-se não quer dizer assistir a diversão, mas satisfazer o espírito com alguma coisa que não seja trabalho ou obrigação.
É indispensável que o indivíduo que se diverte não tenha o pensamento concentrado, senão na recreação do momento.Cumpre classificar os divertimentos, afim de poder fazer a selecção entre os úteis e os prejudiciais.

(...)

Mário Rocha

Anónimo,  2/3/06 21:09  

Quadras populares

Nenhum povo do mundo iguala o nosso no sentimento poético. Podemos até dizer, como João de Deus (o da Cartilha Maternal ou Arte de Leitura publicada no ano de 1945), que o maior dos nossos poetas é o povo - aquele que não sabe que o é. A forma poética mais corrente e preferida é a quadra. muitos de nós conhecemos muitas centenas de lindas quadras.
Há quem tenha colecções de quadras do povo em que todos os sentimentos da alma passam vivos e espontâneos, cheios de simpleza e sinceridade.Em nehum outro país há maior riqueza poética do que a que encerra esse tesoiro que é a alma da gente dos campos.
Nas festas religiosas, nas vindimas,nas romarias,em casa , na rua, num simples cumprimento,quando um freguês entra numa casa do nosso comércio e com o proprietário se saudam, em toda a parte, a quadra surge como uma flor de sentimento que desabrocha.
Ora lamentosa e triste, ora alegre e cheia de esperança, a quadra exprime todos os estados d'alma é o desafogo da máguas e a canção do entusiasmo. Todos devemos amar a quadra, já que todos não podemos igualar o povo no talento de as fazer.

(autor desconhecido)

Anónimo,  2/3/06 22:00  

O espelho

O espelho, na opinião de Xavier de Maistre, o mais aprazivel de todos os quadros, que adornam uma sala ou salão, e tanto assim que as senhoras, cujo gosto não pode ser falso, é para ele que lançam o primeiro olhar quando lá entram. Acrescenta ter visto mil vezes as damas e mesmo os senhores esquecerem-se, em pleno baile, dos seus namorados ou das suas apaixonadas, da dança, e de todas as pessoas da festa, para contemplarem com acentuada complacência este quadro encantador, e até dispensarem-lhe um olhar de relance, no meio da mais animada contradança.

Simplicio

Anónimo,  8/3/06 18:42  

Os versos do Isidoro


A um tal António Isidoro dos Santos, que foi professor de retórica em Coimbra, nos fins do século XVIII, e que tinha o mau sestro de querer ser poeta á força, dirigiu um "trocista" contemporâneo o seguinte curioso soneto, que transcrevo do Dicc.Bibliogr. Port.,de I.F. da Silva:


Fanfarunfias, farofias, bagatelas,
Galhardiferas naus, ondas letargicas,
D'Apeletica mão pinturas targicas,
Trambulhões, altos couces, cambadelas;

Polvoreas, bombardaticas panelas,
Cheiratificos prados, flores vargicas,
Vozes sexquipedais, espalhafargicas,
Cutelos, dardos, chuços, esparrelas.


Mirmidenicos povos, deus cambaio,
Dafonetico amante, auxilio imploro,
Pavilhão azulado, ignoto maio:

Choro, morro, canguei-o, é desaforo!
Aqui firo, ali mato, acolá caio:
Os versos aqui tendes do Isidoro!


Rosa de Viterbo

José Aurélio Almeida 14/7/06 22:46  

Caros Comentadores Identificados e Comentadores Anónimos:
São de elevado nível todos os vossos contributos.
Ficamos mais ricos e deveras agradecidos.

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