No âmbito da reestruturação
inerente à nova orgânica da Direcção Regional da Cultura (DRaC), (oficializada pela publicação do Decreto Regulamentar Regional n.º 3/2006/A, de 10 de Janeiro) foi extinta a Casa da Cultura da Terceira (a par das suas congéneres açorianas, do Centro de Estudo, Conservação e Restauro dos Açores e do Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo).
A Casa da Cultura da Terceira
era um serviço externo da Direcção Regional da Cultura, com responsabilidade específica em relação à ilha Terceira, cujas atribuições genéricas eram prestar apoio a actividades de reconhecido interesse cultural.
Referimo-nos a este assunto porque, independentemente da extinção em causa se justificar ou não, no quadro da política governamental para a área cultural, a mesma provoca-nos alguma nostalgia.
De facto, por volta dos anos de 2000 e 2001, sob a direcção empreendedora e empenhada do Professor Rafael Barcelos, a Casa da Cultura da Terceira criou e implementou um projecto de descentralização cultural que passou essencialmente por promover eventos culturais fora dos pólos citadinos. A estratégia montada passou por dinamizar freguesias rurais, com a colaboração das entidades locais e de uma forma pedagógica, incidindo-se principalmente nos Biscoitos e em São Sebastião. Era objectivo que a acção da Casa da Cultura, limitada no tempo, criasse dinâmicas locais que garantissem a sustentabilidade da promoção de eventos culturais nestas freguesias, por intervenção das suas forças vivas, como sociedades filarmónicas e recreativas, casas do povo, autarquias e outras.
Tivemos a satisfação de assistir a alguns destes eventos e até de participar na organização de um deles. Sentimos que, se não na totalidade, pelo menos em grande parte dos casos a resposta das entidades locais foi a necessária em termos de disponibilidade e apoio logístico. Também assistimos a cenários de considerável adesão de público aos eventos.
Infelizmente não possuímos dados sobre o balanço realizado deste projecto. Empiricamente temos a noção de que deixou algumas marcas mas não conseguiu a continuidade sustentável desejada. Acreditando na mais-valia do trabalho realizado, interrogamo-nos acerca disto, perguntando sobre quem recairá a responsabilidade de o mesmo não ter "frutificado" a cem por cento?
De acordo
com o Diário Insular (12/Janeiro/2006), "
as funções das casas da cultura passam a ser assumidas pelos museus regionais e bibliotecas públicas e arquivos regionais. A sua extinção acontece “tendo em conta que a produção e fruição culturais, enquanto formas de preservação de uma identidade colectiva, por um lado, e de criatividade e inventiva, por outro, potenciam um desenvolvimento harmonioso e sustentado das sociedades que implicam uma articulada e extensiva planificação das actividades, conferindo auto-estima, proporcionando a sua articulação e divulgação, fomentando o autodidatismo em públicos diversificados e de níveis etários diferenciados”." Esperemos, a par do exemplo do
mencionado projecto da extinta Casa da Cultura da Terceira e de algumas experiências do próprio Museu de Angra do Heroísmo, que este e a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, como entidades de tutela governamental com funções de dinamização cultural na Ilha Terceira, entendam e executem uma acção descentralizada que passe também pelos Biscoitos, relembrando a dinâmica cultural possível e desejável.
2 comentários:
Sem comentário.
Cara Eulália:
Agradecemos a sua visita.
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