segunda-feira, 19 de junho de 2006

Ermida de Nossa Senhora do Loreto


Faz hoje um ano que foi reconstruída e reinaugurada a ermida dedicada a Nossa Senhora do Loreto, situada na Canada da Obra, nos Biscoitos.
Na altura da sua reinauguração o Jornal A União publicou o seguinte artigo, por Humberta Augusto:

A mais antiga ermida da freguesia dos Biscoitos viu, ao longo do último ano, o seu património recuperado, tendo sido inaugurada no passado fim de semana.
Depois de ter estado largos anos destruída, a Ermida de Nossa Senhora do Loreto, pertença de um emigrante terceirense, está assim aberta a qualquer solicitação religiosa.

A mais antiga ermida da freguesia dos Biscoitos viu, ao longo do último ano, o seu património recuperado, tendo sido inaugurada no passado fim de semana.
Depois de ter estado largos anos destruída, a Ermida de Nossa Senhora do Loreto, pertença de um emigrante terceirense, está assim aberta a qualquer solicitação religiosa.
Construída a meados do século XVI, a Ermida de Nossa Senhora do Loreto é a mais antiga edificação religiosa da freguesia dos Biscoitos que viu recentemente os seu património recuperado e a sua porta aberta ao culto.
No passado fim de semana, no dia 19 de Junho, a Ermida foi inaugurada, após ter estado largos anos destruída.
O evento foi marcado com a realização de uma cerimónia matrimonial, a do próprio proprietário da ermida, Dimas Silva, terceirense, sobrinho do Tenente Coronel José António de Simas, o anterior detentor da ermida.
Natural dos Biscoitos, emigrado na Califórnia – o responsável pelos trabalhos de restauração, refere que este foi um facto intencional: “estamos muito orgulhosos, muito felizes”, disse ao jornal “a União”, Dimas Silva.
O proprietário do local de culto religioso refere que as obras de recuperação tiveram início há cerca de um ano atrás. Um investimento que, na sua quase totalidade suportado pelo próprio e pela família, rondou os 140 mil dólares.
Localizada na Canada da Obra, a Ermida de Nossa Senhora do Loreto está hoje como no passado.
As obras de reconstituição mantiveram-se fieis à traça original da ermida, refere Dimas Costa. “Contratámos uma empresa para reconstruir a ermida como ela era no passado”, disse.
Desde os exteriores, aos interiores, a beneficiação contemplou todos os pormenores do templo.
Com a frente voltada a norte, toda em abóboda de pedra lageada, a Ermida de Nossa Senhora do Loreto possui um único altar com a imagem de Nossa Senhora do Loreto, um púlpito e um coro alto, vendo-se do lado poente a sacristia.
Dimas Costa refere que a Ermida “está à ordens” de quem dela solicitar, mediante solicitação da família.
A fundação da Ermida de Nossa Senhora do Loreto deve-se a Pedro Anes do Canto, “um dos mais nobres personagens que se fixou nesta ilha, vindo da Madeira, na Companhia do Padre Vasco Afonso”, refere a publicação “Ermidas da Ilha Terceira”, da autoria do Padre Alfredo Lucas.
Sem que se saiba da data precisa da sua edificação, embora haja indicações que apontam para os anos que rondam 1540, registos antigos apontam para a venda da Igreja de Nossa Senhora do Loreto através de escritura datada de 17 de Novembro de 1943. Nessa referência, fica-se a saber que a mesma foi comprada pelo Tenente Coronel José António de Simas, natural da freguesia dos Biscoitos, pertencendo hoje aos herdeiros.
A mesma publicação acima mencionada, refere que este mesmo Pedro Anes do Canto foi igualmente o responsável pela edificação de uma outra ermida chamada de Vera Cruz, que existiu junto ao antigo porto, na freguesia dos Biscoitos."


Em complemento às referências inscritas no anterior artigo, recorremos à ficha nº 156 da publicação "Terceira - Praia da Vitória" (incluída no Inventário do Património Imóvel dos Açores, coordenada por Jorge A. Paulus Bruno e editada conjuntamente pela Direcção Regional da Cultura, Instituto Açoriano de Cultura e Câmara Municipal da Praia da Vitória, em Junho de 2004). Esta obra aponta o século XVIII como época de construção inicial da Ermida de Nossa Senhora do Loreto e, por levantamento realizado em 30 de Junho de 1999, descreve-a do seguinte modo:
"Edifíco de planta rectangular.
Ao eixo da fachada situa-se a porta de entrada e por cima desta uma janela. Na fachada lateral direita há outra porta. Os três vãos têm verga recta com cornija. O cunhal direito da fachada é encimado por um pináculo. Atrás do pináculo, paralelo à fachada lateral, situa-se um pequeno campanário quadrangular com um vão rematado em arco de volta perfeita, peraltado, assente em impostas. Na fachada lateral esquerda existem dois contrafortes de secção rectangular, estreitando da base para o topo. O corpo da antiga sacristia, de um piso, com planta rectangular, está adossado na perpendicular à fachada lateral direita. A parede do tardoz é inclinada como se fosse um contraforte contínuo.
O imóvel é construído em alvenaria de pedra rebocada e caiada, com excepção do soco, dos cunhais, da cornija e das molduras dos vãos que são em cantaria."

8 comentários:

Anónimo,  19/6/06 22:40  

«(...)outra construção levada a cabo por Pero Anes do Canto- e com maior propriedade- se encontra na esfera dos respectivos investimentos religiosos. È ela a da capela de Nossa Senhora da Nazaré, nos Biscoitos (27).Embora desconhecendo a data efectiva da sua edificação sabemos que, entre 1512 e 1521, teria sido construída junto às suas casas que o mesmo possuía na Quinta de S. Pedro.
(...)Situada numa zona altaneira, custou a Pero Anes do canto, segundo declara, mais de quinhentos mil reais, e foi eregida com licença do rei e do bispado da ilhas.»

(27) Que em Frutuoso e outros cronistas aparece como capela de Nossa Senhora do Loreto. Gaspar Frutuoso, livro sexto das saudades da Terra, Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1978,p.37.

In Rute Dias Gregório.Configurações do Patrocínio Religioso de um ilustre açoriano do século XVI.
O 1.º Provedor das Armadas, Pero Anes do Canto.Ponta Delgada. 1999,p. 34 Universidade dos Açores.

Anónimo,  20/6/06 20:23  

"(...)
Esta herdade, assim referida em 1506, quinta ou quintã, como pelo menos a partir de 1528 começa a ser designada, situava-se na zona dos actuais Biscoitos, ilha Terceira, e tomava como referências toponímicas a FAJÃ DO PORTO DA CRUZ e a povoação dos Biscoitos, a Serra Gorda, o Pico do mesmo nome(na Caldeira), o Pico das Ferrarias, o do Miradouro, Serra de Agualva e a das Quatro Ribeiras.
Era também muitas vezes designada como QUINTA DA FAJÃ DO PORTO DA CRUZ(17). Sabemos que, em 1543, o último nome referido (FAJÃ DE S. PEDRO).Não obstante, o lugar aí situado manteria por muito tempo a referência à mais antiga toponímia da zona. Em 1506 fala-se no"loguo que se chama o porto da cruz"em 1523 faz-se referência à "pouraçõ dos byscoytos do Porto da Cruz"era a que, ainda na primeira metade do século XIX, Francisco Ferreira Drumond utilizava para a freguesia.Contudo, o "lugar de S. Pedro, chamado os Biscoutos", nome também corrente na segunda metade do século XVIII, ou a "povoação e orago de S. Pedro" de Drumond, não deixavam de marcar o vingar da toponímia S. Pedro, que a já referida fajã teria assumido ainda antes de dobrar a metade do século XVI."

(17)È-o assim pelo menos até 1517, data do último documento do espólio que apenas a designa deste modo.BPAPD.FEC.MCMCC,vol.II,n.45,fº lvº (Autos da medição, partilha e demarcação do biscoito entre as FAJÃS DA CASA DA SALGA e do PORTO DA CRUZ-1517).


In Rute Dias Gregório.UMA EXPLORAÇÃO AGRO-PECUÁRIA TERCEIRENSE(1482-1550).Universidade dos Açores- Ponta Delgada.2001,pp.14/15

Anónimo,  20/6/06 21:10  

As duas FAJÃS (a da SALGA e a do PORTO DA CRUZ)estão bem retratadas numa foto aérea publicada no "Verdelho".Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos.Compilação da Imprensa. Pela Defesa do Património Cultural dos Biscoitos(2).Ano VIII.N.º8. 2003.p.37
Curioso uma referência no mesmo Boletim e na mesma página:
"CARTA DE RISCO GEOLÓGICO DA TERCEIRA"
(...)O documento foi elaborado ao abrigo do Acordo das Lajes e a título de cooperação com os Açores, por Richard Moore, do Instituto de Geologia do Alaska e por Rodrigues da Silva, do Instituto Geológico e Mineiro de Portugal. O trabalho do investigador foi pago pela Secretaria Regional da Economia.
(...)
"FALTA DE CÉREBRO NO PORTO MARTINS"

(...) Os cientistas debruçam-se também sobre as consequências previsíveis dos maremotos que possam afectar a Terceira, e colocam o Porto Martins no topo da lista negra, sobretudo porque nos últimos anos foram construídas casas na zona de alto risco.
Rodrigues da Silva pronunciou-se mesmo a favor da destruição das construções localizadas nessa zona por o perigo ser demasiado.«Em qualquer caso, a partir de agora, com esta carta disponível, as pessoas já sabem com o que contam»,disse.Os cientistas aconselham a que as autorizações de construção na Terceira passem a ter em conta as zonas potencialmente expostas a maremotos e adiantam que além do Porto Martins, estão em risco as costas de S. Mateus, BISCOITOS, Cabo da Praia, salgueiros e Porto Judeu."

In Diário Insular de 26 de Janeiro de 2001. (SEXTA-FEIRA.

A nova Câmara Municipal da Praia da Vitória conhecerá o documento e as Fajãs?
Estarão as Fajãs das ilhas dos Açores protegidas ou em vias de serem ?

Qual será a reacção das chamadas "Associações Ambientalistas"?Amen?

Caros Governantes locais e Regionais e igualmente as ilustres "oposições" que também por lá andaram... que dizem a isto? Amen?

Não será isto o suficiente para começarem a proteger o litoral biscoitense, a sua paisagem cultural, as vinhas, enfim a nossa identidade?

Anónimo,  21/6/06 12:12  

(...)Nascido em 1473 na Vila de Guimarães, seus pais eram João Anes do Canto e Francisca da Silva, que de acordo com a tradição teriam ascendência inglesa.
(...)

In Rute Dias Gregório. Pero Anes do Canto.Um homem e um património(1473-1556)- Universidade dos Açores- 2001,p.7.(Prefácio de Humberto Baquero Moreno)

Anónimo,  21/6/06 19:01  

(...)
«Ora a "mjnha terra do porto da cruz", como designava Pero Anes do Canto em 1507(),localizava-se entre os biscoitos das Quatro Ribeiras e dos Altares e ía do mar a serra. Compreendia setenta braças de largura(8)e compunha-se de terras de biscoito, uma FAJÃ(9) ou FAJÃS(10) e uma auga(11)».
(...)

In Rute Dias Gregório.A dinâmica da propriedade nos primórdios da ocupação dos Açores- Estudo de caso. aterra do Porto da Cruz (Ilha Terceira). Univercidade dos Açores. Ponta Delgada. 1997,p.35

Anónimo,  24/6/06 20:47  

(...)
Para mais, a sua propriedade do PORTO DA CRUZ ou da FAJÃ DE S. PEDRO (Biscoitos), cabeça de um morgadio que acabará por instituir e onde em 1543 diz morar,é desde logo, e na sua primeira toponímia, bastante sigestiva. Aí possuía Pero Anes do Canto um pequeno porto particular, onde embarcava as sua produções provavelmente para Angra ou para outro qualquer port terceirense.
As mais antigas referências a tal ancoradouro encontramo-las em Gaspar Frutuoso:
"A costa do mar, por esta parte (Biscoitos)é quase toda rasa e muito brava; nela está um porto, donde varam batéis, que se chama a Casa da Salga,que serve pera todos os moradores destas freiguesias, e outro porto, chamado da cruz,e por outro nome de Pedreanes do Canto, onde ele carregava suas rendas, em que está feito um repairo de pedra e cal e outros de pedra ensonssa, com três ou quatro peças de artilharia pera defensão"(...)

In Rute Dias Gregório- Pero Anes do Canto. Um homem e um património (1473-1556)Universidade dos Açores- Ponta Delgada. 2001.pp,62 e 63

Anónimo,  28/6/06 21:26  

(...)referir que em 1556 falece Pero Anes do Canto com a idade de 83 anos de idade, após um período de comprovada "quebra física" que se terá iniciado por volta de 1552.

In Rute Dias Gregório - Um homem e um património(1473-1556)- Universidade dos Açores- Ponta Delgada-2001.P,73

José Aurélio Almeida 12/8/06 16:22  

Caro(s) Anónimo(s):
A multiplicidade de referências situadas entre o distante séc. XVI e o presente séc. XXI (500 anos de história) obrigam ao reconhecimento da importância dos Biscoitos, das suas fajãs e do seu património construído, entre outro.
Que acção terão as autarquias, associações ambientalistas e outros? Esperemos que a suficiente para salvaguardar os valores implicados.
Em primeiro lugar cabe aos biscoitenses divulgar e publicitar estes dados, promover o seu estudo e alertar as autoridades para as conclusões encontradas.
Por nós ficamos agradecidos pela partilha que já aqui está feita e estamos disponíveis para contribuir para esse esforço conjunto.

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