José Manuel Machado na Saber Açores - II
"Saber Açores: Numa época em que se aposta no Turismo, na divulgação dos produtos açorianos, há algum esforço por parte das entidades governamentais em incluir os produtores privados nesta aposta?
José Manuel Machado: Vou dar-lhe um panorama caricato sobre o turismo. Salvo erro foi em Maio do ano passado ou há dois anos, não tenho bem presente a data, mas julgo que foi o ano passado, realizou-se um Congresso Gastronómico e Báquico em Angra do Heroísmo, o primeiro a nível nacional e correu muito bem. Nesses eventos normalmente, as autarquias e as entidades oficiais colaboram com a oferta de jantares. Agora, vem a parte caricata, num congresso gastronómico e báquico, feita excepção à Câmara Municipal da Praia da Vitória, apresentaram comidas que não tinham nada de regionais e vinhos do continente. Foi o próprio Ministro da República que fez isso.
Portanto, este panorama mostra bem a falta de incentivos, o que é de lamentar. Isto na Terceira, porque noutras ilhas as próprias autarquias exigem para a sua colaboração que sejam produtos da sua própria ilha a serem usados nos jantares.
S.A.: Há, então, uma grande inércia por parte das autarquias?
J.M.M.: É um certo desconhecimento das coisas, porque o Sr. Presidente da Câmara não sabe destas coisas, a secretária dele é que trata, provavelmente, não percebe nada do que se está a passar, e então aí é que surge o problema.
S.A.: Durante a época alta há turistas que o procuram para saberem mais sobre o verdelho, ou concentram-se mais no Museu do Vinho dos Biscoitos?
J.M.M.: Eu não tenho condições para fazer o que o Museu faz. Eu não posso dar a minha produção, um litro de vinho sai-me caríssimo, não posso oferecer a todos os turistas que me procuram ou que possam vir a procurar, uma prova de vinho.
Contudo, todos aqueles que solicitam para ver uma adega antiga com a vinificação tradicional, ver as vinhas, eu tento explicar-lhes, quando pedem, porque é que existem as pedras, porque é que está dividido em curraletas e em tornas, dar-lhes a ideia de como é o nosso trabalho aqui, porque é diferente em toda a parte, mesmo de ilha para ilha. É muito mais trabalhoso.
Agora com uma produção de 3000 litros não tenho condições de estar a receber turistas.
S.A.: Uma das principais características da vinha nos Açores é ser cultivada em pequenos currais de pedra, porque este meio de cultivo?
J.M.M.: Primeiro, porque as paredes abrigam dos ventos salgados, e tem pedra porque é um lugar muito quente e seco, até existem microclimas aqui. Antigamente fazia-se a virada, hoje em dia é impossível fazer-se esse trabalho devido à falta de mão-de-obra.
Aquela pedra é colocada por causa da evaporação, ou seja, a água que chove infiltra-se na terra, quando vem o calor e chega à terra não chega a haver evaporação, porque quando ela chega à pedra condensa-se. Também por causa das infestantes e da ajuda que dá à maturação.
S.A.: Quais são as infestantes mais problemáticas actualmente?
J.M.M.: Existe agora uma muito problemática, não sei o nome técnico, mas eles tratam-na por "larica". Esta é um problema porque tem o seu maior desenvolvimento nesta altura do ano, durante a qual não se pode usar qualquer tipo de herbicida na vinha. Além disso, não tem raiz é só um caule, esta infestante penetra em tudo e mais alguma coisa que exista e faz um tapete verde. Isto faz com que a vinha seque, porque nesta altura ela ainda está no seu ciclo vegetativo.
S.A.: Há informação oficial quanto ao tratamento adequado para determinada infestante?
J.M.M.: Os Serviços Agrícolas chegaram a fazer isso com um boletim mensal, nomeadamente, quando chegava ao Verão, indicavam os produtos a utilizar, de resto não há mais nada.
Felizmente, as pragas que existem eu consigo detectá-las facilmente, quando elas aparecem e se manifestam eu faço o tratamento sem ajuda, como já disse, porque temos é técnicos de secretária que acho que muitos deles devem é estar bem sentados, porque se viessem cá para fora não sabiam nada do que iam fazer.
S.A.: Tem levado o seu vinho a concursos vinícolas ou esse é um processo difícil?
J.M.M.: É difícil! O vinho para participar num concurso, de acordo com algumas normas, tem de ser certificado, o meu já está devidamente certificado, o que até tem a sua lógica.
Contudo, e tal como eu costumo dizer de entre os bastidores da tauromaquia, do futebol, da vitivinicultura e das casas de alterne, que venha o diabo e escolha. Eu não posso adiantar mais do que isso! Não estou documentado para tal, mas toda a gente conhece os problemas do futebol por isso...
S.A.: Que futuro prevê para a vitivinicultura nos Açores?
J.M.M.: O futuro, não o vejo, a nível Açores, muito risonho. Estou vendo isto como o futuro da laranja antigamente. O que já está a principiar é o "ciclo da vaca", mas acho que a vitivinicultura vai acabar primeiro que a vaca. Julgo que alguém daqui a uns anos vai contar que houve nos Açores um vinho chamado verdelho, que chegou até a ir para a Rússia para ser servido aos Czares."
29 comentários:
Recomendação n.º 21/B/99
(Artigo 20º, n.º 1 , alínea b), da Lei n.º 9/91, de 9 de ABRIL)enviada a Sua Excelência o Presidente do Governo Regional dos Açores
Palácio de Santana
9500 PONTA DELGADA
Referência R-3427/98 (Aç)
1999 06 17 - 00689
Assunto: Zona Vitivinícola dos Biscoitos.
«PROVEDORIA DE JUSTIÇA
RECOMENDAÇÃO n.º21/B/99
Página 23
9-
(...)RECOMENDO:
A. Que, na sequência do processo já em curso, a zona Vitivinícola dos Biscoitos seja classificada como PAISAGEM PROTEGIDA DE INTERESSE REGIONAL;
B. Que,no âmbito do respectivo processo, seja assegurada a indispensável compatibilização entre a classificação de PAISAGEM PROTEGIDA DE INTERESSE REGIONAL e os restantes instrumentos de disciplina urbanística que incidem sobre aquela área;
C. Que o instrumento de classificação, e a sua posterior regulamentação, tenha em particular atenção, nos termos atrás expostos, a pressão urbanística exercida na área abrangida.
Chamo a atenção de Vossa Excelência para a circunstância da presente Recomendação, nos termos do disposto nos n.º 2e 3 do artigo 38º da Lei n.º 9/91, de 9 de abril, não dispensar a comunicação a este Òrgão do Estado da posição que venha a ser assumida em face das respectivas conclusões.
Com os melhores cumprimentos,
O Provedor de Justiça
José Menéres Pimentel»
Resposta do Governo Regional dos Açores, ao Senhor Provedor de Justiça
Ponta Delgada, 26 de ABRIL DE 2000
«Assunto: Recomendação n.º 21/B/99 do Provedor de Justiça - Zona Vitivinícola dos Biscoitos.
(...)
Relativamente à recomendação n.º 21/B/99 sobre a Zona Vitivinícola dos Biscoitos, comunico-lhe o seguinte:
1. As recomendações enquadram-se nos propósitos quer do Governo Regional dos Açores. quer, tanto quanto julgamos saber, da Câmara Municipal da Praia da Vitória;
2. Com efeito, atendendo a que a zona da vinha dos Biscoitos apresenta características únicas quer quanto ao modo de produção quer paisagística, torna-se importante, salvaguardar o seu património;
3. Contudo, a salvaguarda do património natural, sendo um objecto primordial, está indissociável da permanência do homem naquela zona, uma vez que só este garante a manutenção e o modo da vinha. Assim, sendo torna-se indispensável avaliar a capacidade da carga humana, não só no sentido da sua manutenção, com as sua características base, mas também a natural evolução, sem contender com a natural manutenção ou até expansão da vinha;
4. A questão que neste momento se coloca é a de encontrar a figura jurídica que, por um lado reconheça o valor paisagístico da área referida, e por outro faça o ordenamento urbanístico daquela mesma zona;
5. Decreto- Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, não prevê nenhuma figura que explicitamente enquadre as duas situações;
6. Na sequência da última reunião, realizada em 2000/02/08, entre a Secretaria Regional do Ambiente e a Câmara Municipal da Praia da Vitória, ficou acordado que cada uma das partes iria fazer um estudo jurídico que indicasse alternativas de solução, atendendo a que o novo regime jurídico de instrumentos de gestão territorial ainda não atingiu a sua "maturidade" no sentido de se explorar todas as suas potencialidades;
7. Contudo, e sem estar na posse do estudo jurídico, o Governo Regional é de opinião que , face à actual legislação em vigor, se terá que compatibilizar uma ÀREA DE PAISAGEM PROTEGIDA, que conterá uma
área que será objecto de PLANO DE PORMENOR, cuja competência de elaboração é da CÂMARA MUNICIPAL DA PRAIA DA VITÓRIA.»
Assinado pelo Presidente do Governo Regional dos Açores
NOTA: Este e outros documentos,em cópias, estão na posse de diversas secretarias regionais e instituições ligadas ao sector vitiinicola português bem como de personalidades que lutam pela defesa do litoral dos Biscoitos, das suas vinhas e como já li aqui neste Blog,ou seja na classificação das duas fajãs biscoitenses.
É também de lamentar o desconhecimento da carta de risco geológico da ilha Terceira, mormente no que se refere ao litoral dos Biscoitos, por quem está a elaborar o PDM.
Terão a PROTECÇÃO CIVIL e
a POLÍCIA MARÍTIMA conhecimento da existência das duas fajãs na Freguesia dos Biscoitos e da Carta de Risco Geológico para a Terceira(Biscoitos).
Protejam esse Património Cultural!
Quantos ramais de água se encontram esperando por mais uma casa (desculpem adegas!) ou loteamentos!!
Depois da classificação, quem sabe haja alguém, mesmo fora dos Açores,para surribar(fazer viradas) curraletas bandonadas, que como podem calcular darão bons frutos...pelos anos de abandono.
AVISO:
Procura-se figura jurídica.
Entra o vinho ...sai a verdade!
Essa figura jurídica deve estar nos passos perdidos...~
João Paulo
À boca da minh'ialma!
Não percamos fé no novo Messias!
Pedro
Quando mete política... a vontade desaparece!São todos iguais!
Neste momento as casas continuam a aparecer bem em cima do mar!
http://lapas.blogspot.com/2006/04/confraria.html
Um dia quem sabe(brevemente)os pratos ficarão limpos!
Isso é lutar contra concorrências desleais.Esses tem desde logo o seu vinho vendido, a troco dos subsídios!
Força e continuação de bom trabalho.Isso é que interessa.Eles tb estão vendidos!
R.Fagundes
Estou de acordo! As adegas cooperativas dos Açores de vez enquanto levam umas injecções de subsídios de milhares de euros!
Quanto a pagar aos produtores é que levam anos.
Tem razão este produtor.Parabéns pela sua frontalidade.
A atenção do Senhor Presidente do Governo regional açoreano e dos demais.
Paqê super adega cooperativa nos Biscoitos? Produções industriais?
http://www.terra-mar.org/noticias/mostra.php'n=59715&c=121
Este produtor parece que adivinha!!!!
Milhares de euros com dinheiros públicos?Passa fora!
E esta!Diário Insular 15 de Julho:
A eurodeputada do PCP Ilda Figueiredo, anunciou ontem que vai solicitar à Comissão Europeia e à Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu um reforço dos apoios financeiros para o sector vitivinicola dos Açores.
As propostas da Comissão Europeia para a reforma comum do mercado dos vinhos são perigosas para o futuro das produções tradicionais, beneficiando a Indústria que pode, inclusivé, produzir, sem recurso a uvas, uma mistela a que chamará vinho,disse Ilda Figueiredo.
Ilda Figueiredo acrescentou " não se pode deixar destruir uma cultura tradicional, que reflete a diversidade e a identidade de uma região, em favor da produção industrial.
Oh! Zé Machado confiamos em ti ! Continua a alertar tudo que é contra o vinho dos Biscoitos da nossa ilha Terceira.
CHARADAS
Não tem mistura a bebida de Baccho.-3,2
Tenho antipatia ao homem que é alternador, pois não passa de ser trangalhadanças.-2,2
O corte á planta foi feito pelo médico.-2,3
N'este território africano há um titular que é estrangeiro.-2,2
Zuza & Massango (Lucala - Angola).
Caros Anonymous (22/6/06 21:22 e 23/6/06 18:24):
Depois de lermos a resposta do Governo Regional à recomendação da Provedoria de Justiça sobre os Biscoitos somos obrigados a subscrever o aviso de procura de uma figura jurídica que satisfaça as características específicas em causa. Em todo o caso, por vezes as especificidades são de tal ordem que procurar não basta; criar e aplicar algo que funcione será o essencial.
Caro João do Prado:
Nem sempre...
Se o vinho fosse um infalível soro da verdade os políticos bebiam muito menos...
Caro João Paulo:
Perdida parece estar, sem dúvida...
Caro Benvenuto:
Bem vindo seja.
Caro Pedro:
Que a solução passe por Messias, Codorniz, Ramos, Monteiro ou até Cardoso...
Que chegue... e depressa...
Cara Paula:
Pois é. O que nos leva inclusive para as questões de segurança também apontadas no primeiro comentário a este artigo (registo geológico, domínio público marítimo...).
Caro Anonymous (6/7/06 21:52):
Agradecemos a indicação do artigo sobre a nova Confraria do Chá, no Blog Lapas, e já agora também a comentada alusão ao verdelho dos Biscoitos.
Caro R. Fagundes:
A limpeza é sempre de apreciar.
Em tudo...
Caro Anonymous (16/7/06 18:02):
Devem existir algures, mas não conhecemos nenhuma cooperativa que viva com independência e saúde financeira.
O que é de estranhar até porque são entidades que, pela união dos seus membros, deviam conseguir bom posicionamento no mercado e garantir o respectivo rendimento a tempo e horas.
Caro Anonymous (17/7/06 20:51):
Não conhecemos em concreto os objectivos industriais e comerciais da Adega Cooperativa dos Biscoitos.
Caro Anonymous (18/7/06 21:01):
São factos.
Caro Anonymous (18/7/06 21:22):
O reforço de dinheiros poderá ser importante. A sua gestão será ainda mais determinante em relação ao futuro vitivinícola nos Açores.
Caro Anonymous (18/7/06 21:25):
Agradecemos a sua participação.
Caro Pranxedas:
E aí estão mais charadas ao dispor dos nossos visitantes.
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