segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Dia Mundial da Alimentação assinalado na EBI


Neste “Dia Mundial da Alimentação” a Escola Básica Integrada dos Biscoitos em parceria com o Serviço de Desporto da Terceira e o departamento de nutrição do Hospital Santo Espírito de Angra do Heroísmo, levou a efeito diversas iniciativas alusivas ao tema.
As actividades passaram essencialmente por formas de exploração da temática da alimentação e em particular da Roda dos Alimentos, complementadas com a prática de várias modalidades desportivas.


Faz hoje um ano que publicamos:
Praiense vence no Pico

16 comentários:

Anónimo,  17/10/06 20:34  

Não é só comer:saber comer é um ponto capital.
O escritor dinamarquês Hinhede escreveu num dos seus livros no ano de 1915 a esse respeito,cujos dogmas são:regularidade das refeições; comer os alimentos quentes; não ir para a mesa, enquanto se não tenha fome; beber pouco ás comidas; usar molhos que obrigam a comer muito pão ou batatas; e, enfim,à mesa: não falar; mastigar.
E...em 2006?

Anónimo,  23/10/06 15:53  

O PÂO

Os primeiros povoadores da Terceira não tiveram de modificar grandemente a sua alimentação, pois nela encontraram a possibilidade de produzir tudo o que se produzia no continente, menos o azeite, que foi substituído pela banha.
Há, porém, que distinguir entre gente pobre e a gente rica e mesmo entre a da cidade e das freguesias rurais.
Na alimentação do povo deviam predominar os alimentos de origem vegetal. O uso da carne, apesar da abundância de gado, era muito limitado.Gaspar Frutuoso diz haverem na ilha 17 açougues e mais 5 na cidade, nos quais se matavam 20 reses por semana; Linschotten, mostrando apreciar as batatas, batata doce sem dúvida, pois a inglesa só foi introduzida em 1789, diz que o povo fazia largo consumo dela.
Do peixe, informa o Padre Cordeiro que o povo comia sobretudo sardinhas, cavalas e chicharros, isto é, o mais barato e ordinário.
Em meados do século XIX a gente do campo passava a pão de milho, hortaliças, legumes, abóboras, batatas e mogangos e bebia leite, como se lê nos Anais do Município (1847-1868), manuscrito existente no arquivo da Câmara Municipal de Angra.
A base da alimentação devia sempre ter sido o pão.
O pão de milho só foi usado de meados do século XVII em diante, pois o Padre Cordeiro, que nasceu em 1656, ainda se lembrava de não haver maiz.
Que espécie de pão é o que se ignora.Pão de trigo, naturalmente, misturado com centeio, como no continente, embora, pela abundâcia do trigo, devesse ser melhor do que o que se comia em Lisboa nos fins do sécilo XVI,tão ordinário que os embaixadores de Veneza dizem ser feito com farinha de trigo não joeirado, conservando os lixos da eira.
Numa postura de 1655 no Concelho de Angra (Livro 4.º de Registo do Arquivo da Câmara) fala-se em molete e pão de calo.
Molete era o pão branco, a que hoje se chama pão alvo, tendo esquecido a antiga designação ainda conservada no Norte do País, Porto, Melgaço,Baião, Santo Tirso, Guimarães,(Revista Lusitana,XVIII-195; Leite de Vasconcelos,Opúsculos,II,Ensaios Etnográficos, III-376, bem como em castelhano e galego.
O cancioneiro guarda referências a ele, por exemplo nesta quadra recolhida pelos Drs.Joaquim e Fernando Pires de Lima e publicada nas "Tradições Populares de Entre- Douro e Minho".

O meu amor é do Porto
E é meio cidadão,
Anda afeito a omolete
Já não quer comer pão.


Ao pão alvo chamava-se também na Terceira, em especial ao feito nas padarias, "canoco", forma popular de "fanoco", que Cândido de Figueiredo regista como significando grande pedaço de pão.
O pão de calo, consoante julga Morais no Dicionário(ed.de 1813), como o pão bregado, forma que se encontra em artigos documentos segundo informa Viterbo no Elucidário, veb. bracagem, era o pão de rala ou de mistura e Adolfo Coelho no Dicionário Etimológico define-o - «pão muito amassado, de massa testa, que não mostra olhos depois de partido».
Gil Vicente refere-se-lhe na Farsa dos Almocreves:

Se não tiver que vos venda,
Vinho a seis, cabra a três,
Pão de calo, filhós de manteiga.

e António Prestes no "auto do Procurador":

Jesus! primo, que regalo
tazeis cá de pão de calo;
tem esta terra estes limões?

O povo já o não usa nem fala nele.


Boletim do Instituto Histórico -5
Angra do Heroísmo-1947

Anónimo,  24/10/06 15:22  

A alimentação das pessoas das nossas freguesias, não há muitos anos era essencialmente vegetal!
A carne só se comia pelo Espírito Santo e por vezes nas festas anuais das freguesias.
O pão de milho era o que se consumia mais, geralmente cozido ao sábado e noutros também a meio da semana. O pão de trigo ou pão alvo (não há muitos anos era dado a quem estava a pão alvo, ou seja às "portas da morte"),só era cozido nos dias de festa,casamentos baptizados.
em regra,o homem levava consigo para o trabalho o almoço: pão de milho e leite, ou fruta, ou ainda um pedaço de queijo, bebendo então água. O Jantar consistia igualmente em pão de milho e peixe, queijo, ou fruta, ou o que arranjava para conduto.
Refeição da noite é que comia caldo com sopas de milho com a família.
A televisão e o computador era na altura a enchada, o alvião...

Anónimo,  26/10/06 21:06  

Laguns adágios ou provérbios:

Barriga vazia não tem alegria.

Quem se deita sem ceia toda a noite rabeia.

À mesa não se envelhece.

Peixe de couro faz mal à saúde.

Mais vale pão seco com gosto do que galinha com desgosto.

Comer e coçar está em começar.

Caldo requentado, comido assoprado.

O que não mata engorda.

A mulher e a sardinha querem-se da mais pequeninha.

Bodeão em Janeiro vale um carneiro.

Cautela e caldo de galinha não fazem mal a doentes.

Laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata.

Comer para viver e não viver para comer.

In Revista Lusitana-XXXII
Lisboa - 1934

Anónimo,  3/11/06 13:38  

Dumolin,célebre médico francês, estando para morrer, e achando-se entregue aos cuidados dos seus mais distintos colegas de Paris, ao obervar o sentimento que manifestavam pelo perigo de vida em que o viam, lhes disse:« Não lamenteis a minha falta, porque deixo três grandes médicos no meu lugar. Cada um dos assistentes, julgava merecer este conceito, perguntaram quais eram os indigitados pelo distinto enfermo, quando Dumolin, depois de muito instalado, respondeu:Estes três grandes médicos são: a água, o exercício e a dieta.

Silvia a mãe do Gregório

Anónimo,  3/11/06 17:45  

No ano de 1870, ao Padre Boerdalone perguntou um médico, qual era o seu regimen de vida, ao que respondeu: «como uma só vez por dia». Guardai, disse-lhe o médico, o vosso segredo sem o publicar para não sermos reduzidos á mendicidade».

Malaquias

Anónimo,  11/11/06 22:20  

O pão é invenção dos gregos, depois adoptada pelos romanos. O primeiro uso que se fez da farinha foi de a desfazer em água, e come-la assim, sem mais preparo, como ainda em nossos dias usam os montanhezes da Escócia, e de outros paízes. A maneira mais ordinária entre os antigos de empregarem a farinha, era fazerem com ela uma espécie de papas que coziam ao lume em vasos de barro.Muitas vezes lhes misturavam carne feita em pedaços para se cozer juntamente. Este modo de empregar a farinha subsistiu muito tempo e não será fácil de dizer por que meios se chegou a converter a farinha em pão.
A escritura santa nos diz que Abrahão deu a comer aos três anjos que lhe apareceram no deserto de Mambré.Porém este pão era feito como se disse, e quase semelhante á bolacha, isto é chato e delgado. Assim não carecia de faca para partir tais pães, porque se quebravam facilmente nas mãos e daí provém as expressões muitas vezes usadas na Escritura de "quebrar o pão", "a facção do pão", etc.
Dois pães inteiros, de oito polegadas e meia de diâmetro, achados nas ruínas de Herculano, provam o que se disse atrás.Cada um tinha oito entalhes, afim de de se poder partir ou quebrar mais facilmente. Este pão só era preparado, como todas as demais iguarias, quando dele se haviam de servir, e não era cozido no forno, mas sobre o lar, cobrindo-o por cima com cinza quente. Foi deste modo que Sarah preparou o pão que seu marido Abrahão apresentou aos anjos.Tabém se serviram, para cozer o pão, de espécie de frigideiras em que se lançava a massa, ou antes papas de farinha e punham depois sobre o fogo. O uso do fermento para levedar o pão não foi por muito tempo usado, e mesmo tendo sido muito contestado na medicina se ele era ou não proveitoso á saúde.
Na Inglaterra e em grande parte de Espanha, apenas deixavam começar a levedar o pão, quando o levavam para o forno.
Alguns fazem derivar o nome pão, de Pan, deus dos bosques. Outros de pan, palavra grega, que significa "todos", porque o pão a todos convém e serve de sustento. Entre os gregos eram só as mulheres a quem competiam fabricar o pão e entre os romanos eram os escravos.

Anónimo,  26/11/06 15:51  

"A alimentação do povo terceirense é frugal; e dificilmente se tem habituado á culinária moderna nas freguesias rurais, onde há falta das principais alimentares e meios pecuniários.
O pão, fabricado com trigo produzido na ilha, que é pouco e de má qualidade, e ao qual adicionam farinha importada, é geralmente feito com fermento de milho, juntando-se-lhe muitas vezes a batata doce cozida. Não pode constituir desdta forma, um alimento de fácil digestão, se bem que possua bastantes principios nutritivos.No campo, predomina o pão de farinha de milho mal fermentado.
A carne é sempre de má qualidade, porque o gado abatido, ou é bravo ou cançado das lides do campo. O bom e cuidadosamente tratado, caminha em todos os paquetes para o mercado de Lisboa.
Na culinária terceirense emprega-se em grande escala a gordura de porco derretida, o que torna a digestão mais morosa e difícil.
A caça não é frequente; o leite, geralmente bom e contendo um grande número de princípios nutritivos, devido á alimentação do gado, torna-se hoje um alimento perigoso, pelo grande número de casos de tuberculose que ultimamente tem aparecido no gado vacum.
No campo, a alimentação é geralmente herbácea, fazendo-se grande consumo do peixe seco e salgado.
O uso das bebidas alcoolicas tem-se alastrado rapidamente por toda a ilha e com grande incremento, não sendo muito raros os casos de alcoolismo.
Nos restantes géneros alimentícios, de que o povo pode lançar mão, encontram-se as mesmas falsificações, que hoje aparecem em todo o mundo civilizado."
in A ilha Terceira -Alfredo da Silva Sampaio,p-395-Ano de 1904

E actualmente?
Comemos melhor? O que comemos tem qualidade? O que vem de fora tem qualidade? O pão tem qualidade?

José Aurélio Almeida 9/4/07 00:52  

Caro Anónimo - 17/10/06:
Em 2006 muito se diz (disse) mas, pelo menos na nossa opinião, nada que prevaleça sobre as regras de Hinhede.
Realmente é necessário saber comer para bem viver (e não propriamente o inverso).

José Aurélio Almeida 9/4/07 00:57  

Caro Anónimo - 23/10/06:
Interessantíssimo texto este que introduziu aqui.
A história, ou melhor, as histórias da alimentação, diferentes de local para local, são algo de magnífico.
Isto porque, bem ou mal, sem comer é que não passamos.

José Aurélio Almeida 9/4/07 01:00  

Caro Anónimo - 24/10/06:
Mais uma belíssima nota que aqui é partilhada.
Conhecimento divulgado, riqueza repartida.
Agradecemos.

José Aurélio Almeida 9/4/07 01:03  

Caro Anónimo - 26/10/06:
Destes adágios ou provérbios conhecíamos alguns. Outros são para nós novidade. E que ricas novidades.
O nosso povo é imensamente sábio.

José Aurélio Almeida 9/4/07 01:05  

Cara Silvia, mãe do gregório:
Conclusão tão simples quanto verdadeira.
E por vezes buscamos pseudo-soluções complicadas.

José Aurélio Almeida 9/4/07 01:07  

Caro Malaquias:
Esta regra não estará de acordo com os princípios actualmente vigentes, o que não significa que não possa ter alguma virtude.

José Aurélio Almeida 9/4/07 01:14  

Caro Anónimo - 11/11/06:
Não há dúvida de que a temática do pão, por si só, no contexto mais vasto da alimentação, constitui-se de importância considerável.

José Aurélio Almeida 9/4/07 01:20  

Caro Anónimo - 26/11/06:
O cenário traçado por Alfredo da Silva Sampaio, referindo-se à alimentação do povo terceirense em 1904 é preocupante.
Achamos que actualmente a esmagadora maioria da população terá ultrapassado um dos principais problemas daquela época: a possibilidade de acesso a alimentos variados e com qualidade nutricional (de produção local ou importada).
Não significa isto que os aproveitem ou que os utilizem da melhor forma. Também subsistem, concerteza até de forma agravada, as ditas "falsificações, que hoje aparecem em todo o mundo civilizado".

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